São descritos inúmeros benefícios associados à prática desportiva juvenil, desde a promoção de competências de vida, como um maior sentido de responsabilidade e de organização, uma maior capacidade de gestão de tempo, respeito pelas regras e liderança, e até mesmo a promoção da socialização, particularmente em desportos coletivos.
De igual forma a promoção de competências físicas como mobilidade, resistência, motricidade e força, também está associada à prática de desporto juvenil. No entanto, associados a estes benefícios surgem também algumas questões menos positivas: muitas vezes deseja-se que o/a jovem venha a ser um Cristiano Ronaldo, um Lebron James ou um Usain Bolt. Estas elevadas expectativas surgem do contexto familiar, mas também do contexto desportivo. A pressão parental é uma das problemáticas no contexto do desporto juvenil, particularmente quando os pais tentam viver sonhos desportivos antigos através dos seus próprios filhos/as. Mas as entidades desportivas estão cada vez mais focadas em desenvolver talentos, e por vezes, o nível de exigência que recai sobre os jovens, na minha opinião, pode ser excessiva e, estes jovens acabam por perder parte dos benefícios do desporto juvenil, entre eles o divertimento e a socialização com os pares (Note-se que não estou a criticar ou a tomar algum partido, apenas a expor que acontece atualmente). Contudo, este interesse pelo desenvolvimento desportivo foi crescendo, e a ciência tem procurado explorar as melhores condições para o desenvolvimento destes talentos.
Desta forma, surgiram algumas abordagens para o desenvolvimento destes jovens atletas. Uma abordagem muito em voga é o “Long Term Athlete Development”, e os seus pontos fortes e pontos fracos já foram bem documentados (Armstrong & Barker, 2011; Bailey et al. 2010; Ford et al., 2011, 2012; Hooren et al., 2020; Lloyd et al., 2012). Este modelo sugere a existência de janelas de oportunidade para o desenvolvimento de determinadas capacidades físicas. Baseado nesta abordagem, e recorrendo à minha prática, a aplicação do “Peak Height Velocity” pode ser uma forma a perceber quando ocorrerá o pico de crescimento dos jovens. A aplicação desta “ferramenta” é extremamente simples, através de alguns dados dos jovens é possível estimar quando o pico de crescimento irá ocorrer. No entanto, é de realçar que não devemos cair no erro de treinar apenas aquelas capacidades físicas em determinado momento, e nunca mais voltar a treiná-las.
Na minha opinião, não devemos compartimentar as capacidades físicas, mas sim treinar todas elas ao longo do desenvolvimento, focando determinadas capacidades em diferentes pontos do crescimento.
Concluindo, se é importante considerar estes modelos? Eu acredito que sim. No entanto, a minha opinião e de toda a equipa GEETFAA, que tenho o prazer em integrar, é de que devemos ter em atenção estes modelos, mas devemos também adaptá-los e ajustá-los à nossa realidade, de forma a não sermos inflexíveis em relação aos mesmos e, acima de tudo, ter em conta que o treino de força de forma progressiva é essencial.