A emoção, reconhecimento e mediatismo em torno do mundo da alta competição tem suscitado cada vez mais o interesse por parte de profissionais da área do exercício, chegando mesmo a surgir/ autodenominar-se uma nova categoria na área: o treinador de alta performance.
No entanto, será a “alta performance” assim tão distinta do treino para um cidadão dito “comum”? Ou será mais uma questão de ter o conhecimento e bom senso necessário para avaliar regularmente, como forma de monitorizar e analisar, com critério, a disponibilidade do corpo do cliente/atleta para conseguir direcionar e ajustar o treino às suas capacidades e necessidades?
Como sabem, a PTX tem vindo a solicitar regularmente a colaboração de inúmeros colegas ligados ao mundo da alta competição (de diferentes abordagens e por isso acreditamos que o temos feito de de forma isenta e imparcial) com o intuito de informar e desmistificar algumas ideias relacionadas com estas questões que se vão enraizando no mundo do treino e do exercício.
Desta vez, decidimos tomar a liberdade de dar também a nossa opinião sobre o “treino de alta performance vs o treino para o cidadão comum” e lançar um debate sobre o tema.
Antes de mais, quando falamos num atleta, acredito que estamos a falar de um ser humano com índices físicos, níveis de tolerância e resiliência muito acima da média, bem como uma enorme capacidade de trabalho e sacrifício do corpo em prol dos resultados sempre que seja necessário.
Mas, no fim de contas, os objetivos a cada sessão entre um atleta, um praticante de nível de recreação/aperfeiçoamento ou até num cidadão comum serão assim tão diferentes?
Acima de tudo é necessário perceber que o corpo não se encontra nas mesmas condições caso tenha passado um fim-de-semana ativo, inserido numa jornada competitiva de uma modalidade, ou um fim de semana de descanso. Por exemplo, no caso de um jovem futebolista, no que toca à recuperação, o dia seguinte a um jogo, será o mesmo que o dia a seguir a ter efetuado um treino mais focado nos respetivos aspetos técnicos ou táticos? Provavelmente não! Da mesma forma que num “cidadão comum” um fim de semana dedicado à sua atividade profissional e com menos horas de sono terá implicações no corpo do mesmo.
Neste sentido, perceber o nível/ contexto em que o atleta/ cliente está inserido e quais os seus objetivos também farão toda a diferença.
Caso estejam relacionados com uma vertente de alta competição, para além de uma selecção natural ao nível das capacidades do atleta, provavelmente estarão também reunidas todas as condições para potenciar as aptidões físicas de uma forma óptima. O atleta poderá estar a desenvolver um trabalho inserido numa equipa multidisciplinar em que para além do treinador, adjuntos, preparadores e recuperadores físicos, fisiologistas, fisioterapeutas, médicos, etc poderá usufruir de modernas instalações para trabalhar as suas capacidades. O seu foco, energia e talento também poderão muito mais facilmente estar ao serviço do seu desempenho.
No entanto, caso estejamos a falar de um contexto não profissional, poderemos estar a falar de condições de trabalho diametralmente opostas às que acima referimos e provavelmente já estará a ser desenvolvido um esforço acrescido para poder treinar uma dada modalidade. Se ainda houver disponibilidade e interesse para um trabalho complementar, então este cliente/atleta/praticante estará a ter um esforço que deverá ser de louvar.
Independentemente do contexto, acredito que é o trabalho mais direcionado e criterioso mas também em muitos casos, o mais sóbrio e subtil que permite fazer o atleta/ praticante brilhar.
Será também necessário ter presente que, por vezes, mais do que melhorar é importante estar ciente das limitações, não sobrecarregar e “não piorar” a sua condição.
Terminamos com uma pequena reflexão: Nos diferentes casos que falámos não se pretenderá aplicar os estímulos adequados de forma a resultarem adaptações o mais positivas possível e com isso melhorar a performance ou responder da melhor forma às exigências do quotidiano ou melhorar a qualidade, bem como evitar potenciais mecanismos de lesão?
Gostaríamos de saber a sua opinião.
Não perca a 2ª parte deste artigo de Luísa Raposo
Texto de Gonçalo André