Hoje, há cada vez mais estudos a comprovar que a referida mobilidade se deve à capacidade de os músculos contraírem de forma harmoniosa. Portanto num contexto de treino de força, nós treinadores, devemos aplicar resistências de forma estratégica apelando ao foco, controlo e intenção de forma a melhorar a contração muscular, a modulação da resposta motora e consequentemente a amplitude de movimento articular.
A contracção muscular controlada pela própria pessoa de forma a mover a articulação, promove ganhos de força, facilita a comunicação entre músculos e sistema nervoso e contribui para ganhos de mobilidade pois permite a articulação movimentar-se em amplitudes que antes poderia não ser possível.
Nas nossas diversas publicações, gostamos de alertar que não existem exercícios perfeitos e que a diferente natureza de cada indivíduo não nos permite encarar o exercício como uma espécie de receita. Provavelmente, já assistiu no ginásio à execução do famoso exercício “aberturas com halteres” com um movimento exageradamente amplo e fora dos limites articulares saudáveis do ombro ou até mesmo uma ”remada” com a coluna com excesso de extensão e sem controlo e foco nos músculos-alvo.
Independentemente do objetivo ser aumentar a mobilidade ou a massa muscular, situações como estas, implic
am um ajuste às características individuais e nível de treino do praticante.
Por isso, atender a essas mesmas características e garantir a aquisição de ferramentas que permitam uma maior consciência, deverão ser um imperativo quando quer treinar de forma segura.
“Quando pretendemos falar em mobilidade, importa portanto, falar sobre a amplitude de movimento ativa (ADM). Muito resumidamente, a ADM ativa traduz-se na amplitude de movimento que articulação é capaz de percorrer ativamente usando os músculos.”
Quando assistimos, durante a execução de um determinado exercício ser levado para fora da sua ADM ativa, “poderá ser devido à falta de controlo associado ao uso de cargas excessivas pela ideia de que mais é melhor, conduzindo a um défice de força muscular vs. carga externa com mais fadiga acumulada, reduzindo a tensão do(s) músculo(s) alvo e sobrecarregando outras estruturas como as articulações, ligamentos e tendões. Isto pode ser evitado se conhecer os seus limites articulares em cada segmento corporal e trabalhar dentro deles, evitando assim a dissipação de forças para outras áreas onde o risco de lesão é muito elevado.
Na situação oposta, quando o indivíduo está a executar um movimento numa amplitude bastante reduzida, devido ao excesso de carga, normalmente o intuito é o aumento de massa muscular e até faz sentido uma progressão na carga externa, contudo perde-se uma excelente oportunidade de estimular o músculo ao longo de todo o seu ciclo de alongamento-encurtamento. Nestes casos os ganhos de força ocorrem dentro de uma amplitude muito específica, negligenciando outras posições mais débeis que poderão ter repercussão mais tarde nas tarefas do dia-a-dia. Importa ressalvar também que limitar a ADM ativa pode ser uma estratégia para trabalhar fora dos limites articulares onde o indivíduo sente dor ou desconforto, devendo haver sempre o intuito de uma micro-progressão de modo a lá chegar com o tempo.”
Digamos que o treino de força será o meio para, da forma mais eficaz, conseguir melhorar a tolerância dos vários tecidos e sistemas com a melhor relação risco/benefício. Uma progressão que respeite as regras do corpo, apropriada ao indivíduo, com carga mecânica com direção, magnitude e frequência ajustada pode induzir às necessárias adaptações para ganhar mobilidade e até prevenir mecanismos de lesão. Mas este fim envolve um elevado grau de mestria com a aplicação de forças no corpo.
Texto de Gonçalo André