Como em todas as atividades, a democratização da prática de exercício físico que assistimos hoje em dia é benéfica para o cliente. Há mais opção de escolha e pode ser mais fácil encontrar um Personal Trainer com o perfil indicado em várias zonas do país e não apenas nos grandes centros como acontecia há algum tempo atrás. No entanto, o aumento exponencial de treinadores que temos vindo a assistir também levanta outras questões.
Será que para além dos resultados a nível de composição corporal todos oferecem garantias a nível de formação, conhecimento ou soluções?
Há também mais campanhas de marketing que atraem um maior número de pessoas para retomar ou iniciar a prática de atividade física. Sem dúvida que é benéfico haver mais portugueses a adotar comportamentos mais saudáveis mas será que este processo é sempre feito de uma forma consciente?
O mercado cada vez mais concorrencial do treino personalizado dos dias de hoje apela a que os treinadores se concentrem cada vez mais em tarefas e objetivos comerciais. Muitos treinadores chegam a despender mais tempo nas tarefas relacionadas com as vendas do que propriamente na prescrição do exercício. O discurso é normalmente eficaz e direcionado para o que o cliente quer ouvir e nem sempre para aquilo que precisa de ouvir.
A nível do treino também há a tentação de o treinador prescrever o que o cliente mais quer mas nem sempre o que o cliente mais necessita. Por vezes são aplicados métodos pouco estudados que até podem apresentar resultados positivos, mas que podem sobrecarregar em demasia estruturas já debilitadas, em muitos casos sem as próprias pessoas o saberem. Por vezes, o efeito negativo desses mesmos métodos não são manifestados a curto prazo mas sim a longo prazo sem que se perceba uma relação causa-efeito. No entanto, esta pode existir. Tanto o personal trainer como o cliente devem ter a consciência que o exercício traz inúmeros benefícios mas também pode trazer consequências e ser altamente invasivo para o corpo. Os resultados rápidos no presente podem ter consequências no futuro.
Neste momento, felizmente, já é possível encontrar em qualquer ponto do país um PT com diversas transformações, nomeadamente os famosos “antes e depois” no seu repertório com o devido mérito e dedicação dos intervenientes no processo como o cliente, o PT e os responsáveis por nutrição e suplementação. É normalmente um profissional com experiência em entrevistas, com um discurso fluído que transmite confiança e permite acreditar que é possível ser mais uma transformação e um caso de sucesso.
A nível de treino, também já é possível contar com um treinador com ferramentas para efetuar avaliações físicas (algumas com a subjetividade inerente ao pouco tempo que o treinador tem para apresentar resultados) e a partir desse momento “colorir” a sala de exercício com novos materiais, pôr em prática novos e diferentes exercícios e aplicar uma intensidade que faça realmente transpirar.
Mas será que encontra com a mesma facilidade um treinador que permita atingir estes objetivos da forma mais saudável, adequada e consciente?
Como sabemos cada cliente tem a sua própria estrutura, os seus padrões e amplitudes de movimento. Por isso, cada um destes aspectos requer um cuidado especial e individual. Não será para isso que realmente serve um personal trainer?
Na PTX acreditamos seriamente que sim.
Primeiro que tudo, o PT deverá avaliar o cliente e perceber como este está em termos de estabilidade e mobilidade de modo a aferir que cargas, que tipo e que grau de complexidade de movimentos este pode tolerar.
Acontece frequentemente o cliente iniciar um programa, realizando logo movimentos onde são incrementados pesos sem que este perceba se o seu corpo tem ou não desequilíbrios e quais as suas causas. Sem um diagnóstico inicial e sem um processo continuo de avaliação será difícil adequar um programa de treinos à condição e objetivos do cliente.
Tal como acontece na PTX, os clientes devem passar por uma avaliação neuro-musculo-articular para que tanto o treinador como o cliente percebam o estado da saúde articular e quais os aspectos a melhorar, bem como as formas como devem ser postas em prática. Portanto, um PT deve garantir o alcance dos objetivos de cada cliente mas sem se demitir da função de ajustar, moderar, reformular ou até alterar esses mesmos objetivos caso ponham a saúde do cliente em risco.
Texto de Gonçalo André