Grande parte da população apresenta alguma alteração degenerativa na coluna (hérnia discal), o pode ser considerado normal, pois a maioria das alterações passam despercebidas e a qualidade de vida das pessoas não é afetada. A hérnia de disco na região lombar é um problema comum, e a maioria (cerca de 80%) das hérnias lombares ocorrem ente L4/L5 e L5/S1 e estas podem comprimir e afetar uma ou mais raízes nervosas o que pode provocar dor, dormência, perda de força, dor ciática, entre outros sintomas. A considerada radiculopatia.
A nossa coluna vertebral é composta por 5 vértebras lombares e a região sacrococcígea. Existe um disco intervertebral entre cada uma das vértebras lombares que são responsáveis por absorver e distribuir forças, servindo de amortecedor para as vértebras. O disco é composto por uma parte exterior chamado anel fibroso e por uma parte interior chamado núcleo pulposo (imagem A – Representação do núcleo pulposo e anel fibroso do disco intervertebral, vista superior). O que acontece é que os discos são expostos a forças ao longo do tempo e os tecidos que os compõe podem exceder os seus limites, fazendo com que a região central vá conseguindo penetrar no anel fibroso chegando a ultrapassar a sua margem, e aí pode haver o contacto com as raízes nervosas e assim chega ao estado de radiculopatia. Estas estruturas da coluna são nutridas através de impactos e compressões e não são frágeis, pelo contrário, são extremamente resistentes. Estão envolvidas de ligamentos e músculos que permitem a estabilidade e longevidade dos discos.
É de realçar que é prioritário consultar o seu médico que irá sugerir a abordagem que for indicada ao seu caso. É certo que nem todas as pessoas conseguem escapar ao tratamento cirúrgico, mas sabemos que o tratamento conservador (medicação, fisioterapia e exercício físico) tem apresentado excelentes resultados para a maioria dos casos!
Através de uma revisão, Chiu e colegas (2015), descobriram que a hérnia de disco tem capacidade de regressão espontânea (melhoria do seu estado) de 96% no caso da sequestração; 70% no caso de extrusão; 41% no caso de protusão e de 13% no caso de degeneração do disco. Parece que, quanto mais grave está o caso, maior a probabilidade de recuperação após um tratamento conservador. Portanto, deve manter-se otimista.
Golonka e colegas (2021), estudaram os efeitos da aplicação de exercícios de extensão da coluna (lumbar extension) em amplitudes de movimento limitadas (respeitando o conforto dos participantes) em pacientes com radiculopatia e hérnia de disco lombar. Após 18 sessões de exercício, 162 dos 168 pacientes (96.4%) reportaram uma redução significativa de sintomas: 146 pacientes (89.9%) estavam completamente tratados ou tinham leves sintomas. Nenhum dos pacientes relatou piorar o seu estado.
Existem alguns fatores que aumentam a nossa exposição a este tipo de problema. Segundo Zielinska (2021), os fatores como os genes, o tabaco, o tipo de trabalho que realizamos diariamente, a sobrecarga axial na coluna, o envelhecimento, a altura do indivíduo ou a obesidade, parecem estar relacionados com o aumento de probabilidade de hérnia de disco. Contudo existem medidas relacionadas com o nosso estilo de vida que nós podemos tentar modificar, e atuar na prevenção:
- Evitar fumar;
- Manter um índice de massa corporal adequado (sobretudo baixa percentagem de massa gorda);
- Evitar longos períodos sentado (mudar de posição frequentemente e ser ativo);
- FAZER EXERCÍCIO FISICO;
Sabemos que o exercício físico é uma estratégia promissora que atua na prevenção e tratamento deste problema, é eficaz na melhoria da função e dos níveis de dor a médio/longo prazo, deixando a coluna mais capaz para exigências do dia a dia. Este pode ser adaptado constantemente a cada indivíduo (exemplo: amplitude de movimento, carga, controlo, número de séries e repetições.). Assim há possibilidade de uma abordagem conservadora de tratamento sem presença de dor, mesmo em estados mais agudos. Isto, também pode ser importante para que a pessoa ganhe confiança na sua coluna, vá reduzindo o medo e ganhe tolerância/capacidade física na sua coluna. O exercício é a estratégia inicial utilizada (para a maioria dos casos) e aqueles que conseguem manter uma rotina de exercício físico tem boas chances de resultados positivos! Em questão, também temos as medidas preventivas, relacionadas com o nosso estilo de vida, que podemos colocar em prática para reduzir as chances de sofrer de hérnia de disco. Existe evidência de que usar exercício de fortalecimento muscular da região da coluna, bem aplicado, é EFICAZ e SEGURO para pessoas com hérnia discal lombar com radiculopatia.
Procure um profissional qualificado. Bons treinos!
Treinador Duarte Silva.
Referências:
- Isolated Lumbar Extension Resistance Exercise in Limited Range of Motion for Patients with Lumbar Radiculopathy and Disk Herniation—Clinical Outcome and Influencing Factors (Golonka, 2021)
- The probability of spontaneous regression of lumbar herniated disc: a systematic review DOI: 10.1177/0269215514540919 (Chiu, 2015)
- ISSLS PRIZE IN CLINICAL SCIENCE 2019: clinical importance of trunk muscle mass for low back pain, spinal balance, and quality of life—a multicenter cross-sectional study Risk Factors of
- Intervertebral Disc Pathology—A Point of View Formerly and Today—A Review (Zielinska, 2021) doi: 10.3390/jcm10030409