Realizamos uma reflexão sobre aquilo que consideramos ser os principais mandamentos para um personal trainer. Gostaríamos que refletissem connosco sobre os diferentes mandamentos e comentassem o que vos apraz dizer relativamente à nossa escolha.
– Não sacrificar a saúde em prol do corpo.
Este será provavelmente um dos principais mandamentos dos profissionais do exercício físico. Nós sabemos que existe uma grande pressão na obtenção de resultados com base em indicadores de composição corporal, contudo esses objetivos nunca devem sobrepor-se à manutenção da saúde das nossas articulações, músculos e tantas outras estruturas. A aversão ao risco deverá estar presente em todas as decisões do personal trainer. A exceção será o treino desportivo, mas nesse caso falamos de uma franja muito pequena da população para quem o exercício físico representa um meio de melhorar a performance desportiva.
– Adequar “o toque” nas sessões.
O toque deve ser usado de forma criteriosa sob pena de constituir um fator de distração/ dispersão durante um exercício. Reflitamos:
– será importante o treinador tocar o aluno no joelho durante um agachamento? E quanto à cintura num movimento de extensão da coxa? A resposta não é fácil e dependerá sempre do objetivo do toque e necessidades do cliente. O toque poderá ser uma ferramenta válida para guiar uma determinada parte do corpo, tornando um exercício mais intuitivo; ou dar mais suporte tornando o exercício mais eficaz e seguro desde que o aluno esteja confortável com esta situação. Um exemplo em que este pode ser útil é numa remada quando o treinador toca nas omoplatas para que o aluno percecione a arquitetura óssea em causa e quais os respetivos músculos-alvo que este deve contrair. Outro exemplo em que o toque também pode ser pertinente é o caso do supino em que o treinador toca nos cotovelos do aluno para ajudar a delimitar a amplitude de movimento mais segura e adequada à sua estrutura. Pense também num crossover nos cabos em que o treinador “ampara” o aluno para que o mesmo realize o exercício com mais suporte, conseguindo realizá-lo com mais “estabilidade”.
O nosso conselho é o treinador pensar duas vezes antes de tocar no aluno e perguntar a si mesmo: “Será o toque essencial neste exercício ou será consigo transmitir todos os critérios de êxito e garantir a segurança de uma forma verbal?”
– Não ceder a vieses metodológicos.
A etiquetagem de modalidades e/ou metodologias é um fator ainda importante para o consumidor conseguir identificar o serviço/produto que vai adquirir, contudo o personal trainer devera ser um indivíduo independente de qualquer modalidade e/ou metodologia. Deve sim, basear sua intervenção no conhecimento do corpo humano e outras ciências para que “carregue consigo o crachá” de treinador personalizado, baseando sua intervenção na singularidade de cada corpo com que trabalha.
– Recolher o máximo de informação sobre os seus clientes.
Não poderia faltar num dos nosso mandamentos este aspeto, porque apesar de todas as competências técnicas que já falamos é crucial manter um registo do trabalho que está sendo realizado com cada um dos clientes. A criação de registos é o garante, que a longo prazo, conseguimos identificar, de forma mais assertiva, as verdadeiras necessidades dos clientes.
Estes registos devem contemplar não só a informação que recolhemos no início de cada processo de treino, mas também um resumo do que realizamos a cada ciclo de treino com esses mesmos clientes. Pois só assim nos aperceberemos de tendências e possíveis soluções para melhorar toda a experiência de treino a quem nos contrata.
– Evitar o sensacionalismo.
Hoje, mais do que nunca (também após todos os constrangimentos relacionados com a pandemia que continua afetar o mundo inteiro de uma forma tão direta) passámos a estar em contacto com uma enxurrada de conteúdos relacionados com exercício. Muitos deles apelando ao melhor corpo e num registo de “Just Do IT”, prescritos não pelo profissional mais competente mas o mais influente negligenciando os efeitos nocivos que uma abordagem deste género possa vir a ter. O Exercício merece uma comunicação centrada nos reais benefícios de um processo de treino orientado e direcionado.
“Não é treinar que faz bem. Treinar bem é que faz bem!”
– Comunicar de forma pedagógica.
É um dever dos profissionais do exercício chegar aos atuais e futuros praticantes de atividade física através de conteúdo credível, com uma linguagem simples e objetiva que contribua para a educação do praticante, que refute ideias controversas e ajude a clarificar mitos que se vão perpetuando no mundo do treino.
“O fitness está cheio de sound bites” e de “clichés” que (é importante que se perceba) nunca irão servir a todos. Acreditamos que a tendência para “generalizar” é mesmo um dos maiores defeitos e perigos no fitness. “PARA QUEM?” deve ser sempre uma pergunta de partida e norteadora na nossa área. “O treino tem um grande potencial para a melhoria da saúde e qualidade de vida das pessoas e necessita que, para isso, passemos de uma linguagem pouco responsável para um discurso sério, assente em conhecimento escrutinado.”
Um aluno informado é um aluno mais saudável e fidelizado ao exercício.
– Investir na educação contínua.
A qualidade da nossa intervenção depende em muito da capacidade técnica que vamos desenvolvendo ao longo dos anos de trabalho. Investir de forma contínua na nossa educação, para melhoria das nossas competências, deverá ser um requisito anual de qualquer profissional.
O caminho da mestria faz-se de um processo ininterrupto de constante mudança lapidado pela nossa experiência.
O nosso conselho é que parte do seu lucro seja destinado a esse fim, aplicado de forma criteriosa.
– Não ser invasivo.
Vivemos numa era em que, de uma forma geral, os mercados coabitam num ambiente altamente concorrencial. Esse facto leva a que, se exerça uma forte pressão nos momentos de venda dos mais variados produtos/serviços e muitas vezes a qualquer PREÇO. O sector do Fitness não é exceção. Esta agressividade (não confundir com dinâmica e proatividade), embora à primeira vista possa parecer uma virtude, pode acabar por ter um efeito “perverso” afastando as pessoas da prática de exercício e não ajudar em nada a dignificar a imagem dos profissionais da área.
– Promover o trabalho multidisciplinar com outras áreas de conhecimento.
Já deve ter percebido que as nossas medidas de sucesso são mais qualitativas que quantitativas por isso um dos mandamentos obrigatórios é saber recomendar outros profissionais da saúde, esta deve ser uma competência que rapidamente podemos desenvolver independentemente do tempo que já estamos presentes no mercado.
Criar redes de apoio com outros profissionais irá ajudar na estabilização do seu negócio, mas acima de tudo é um sinal de comprometimento com o objetivo final – ajudar da melhor forma possível as pessoas que nos procuram. Por isso não tenha receio em recomendar nutricionistas, fisioterapeutas, outros profissionais da saúde ou mesmo outros colegas seus porque essa sinergia será equivalente ao retorno que obterá desse “pensamento de comunidade”.
– Fomentar a união e respeito entre colegas.
Ouvir, aprender e fomentar o debate respeitando as opiniões dos vários colegas irá sem dúvida elevar o nível da nossa profissão e beneficiar todos os intervenientes de um modo geral. Estudar, contar com o esclarecimento e ajudar colegas com formas de trabalhar complementares à nossa em áreas como a mecânica, fisiologia, anatomia, direito desportivo, só irão ajudar a passar a mensagem de um sector organizado e capaz de servir quem nos procura.
“O todo será sempre melhor do que a soma de todas as partes.”
Os 10 mandamentos do Personal Trainer for escrito por Gonçalo André e Tiago Gago.