A primeira parte deste artigo terminou realçando que “…no futebol como em qualquer outra modalidade o mais importante e mais específico é praticar a modalidade e a prioridade é e será sempre a modalidade” e que “o treino das capacidades motoras físicas é um complemento apenas” e que se esse trabalho “puder passar despercebido no meio de uma estrutura, tanto melhor…”
Desta forma, e mesmo entendendo que o trabalho de um preparador físico irá variar e estar altamente dependente do contexto onde este tiver inserido e também daquilo que for a metodologia do treinador principal, na minha opinião este deverá ser capaz de gerir as cargas médias da equipa e de cada jogador, não para exigir quilómetros aos jogadores mas essencialmente para entender que dentro da sua eficiência ele tem um tipo de comportamento (por exemplo, uma certa distância percorrida). Nós enquanto preparadores físicos não percebemos essa eficiência e daí ser necessário a colaboração do treinador principal para tanto de uma parte como de outra, caso haja um comportamento diferente do normal ser percecionado e assim poder evitar males maiores quando um atleta por exemplo começa a tomar más decisões e a percorrer menos distância do que é normal. Comportamento que poderá indicar que este não está apto do ponto de vista físico – alertar que quando algo é detetado não é com o objetivo de ir pressionar o atleta para produzir mais, é apenas o levantar de uma bandeira vermelha para ter mais atenção a certos comportamentos do atleta fora treino, e até mesmo tentar falar em particular para tentar perceber se algo se passa, até do ponto de vista psicológico ou emocional. O preparador físico deverá também ter e fazer a ligação entre a fisioterapia e o terreno de jogo/treino. Quero com isto dizer que o return to play do atleta já deverá ser feito pelo preparador físico e para isso este deverá estar inteirado de todo o processo de reabilitação que foi feito pela fisioterapia, e em certos momentos ambos os profissionais em conjunto podem e devem começar a expor o atleta a estímulos quer em ambiente mais controlado, como ginásio, quer em ambiente mais real, o terreno de jogo. Desta forma, haverá uma passagem mais ténue e segura de integração do atleta para voltar a competir. Mesmo durante o período de lesão os atletas ainda que não treinando com a equipa, não podem deixar de treinar no contexto mais controlado, e mesmo tendo parte do seu tempo ocupado com os tratamentos de fisioterapia, devem continuar a treinar o membro contralateral ao lesionado e continuar a treinar o resto do seu corpo dentro das limitações necessárias para que as perdas de capacidade cardiorrespiratória, força e massa muscular não ocorram ou pelo menos sejam atenuadas. Associado a tudo que disse anteriormente, o preparador deverá também realizar o trabalho mais tradicional como por exemplo os aquecimentos ou reaquecimentos nos dias de competição e, caso se justifique, nos dias de treino (se bem que aqui o aquecimento poderá ser logo o entrar na parte integrante dos objetivos que o treinador principal tem para o dia). Finalizando, no trabalho de preparador físico no contexto de clube, este pode ser sensível e/ou ter ferramentas que caraterizem a demanda do jogo, podendo comparar com aquilo que é a caraterização do treino e assim expor ou não o atleta a certos estímulos que complementem o treino, como por vezes acontece com as corridas a alta velocidade.
Quando há a oportunidade de conjugar os treinos das capacidades físicas motoras com a modalidade durante o período competitivo, seja no clube ou fora dele, o preparador físico deverá OBRIGATORIAMENTE perceber aquilo que o atleta faz nos treinos da modalidade em campo, e só assim pode depois complementar com o treino de força no ginásio, adequando assim o estimulo dentro e fora de campo. Durante o período fora da competição devemos tentar criar um atleta mais forte e resiliente para quando começar a época novamente este esteja apto para tal. Contudo, tudo isto irá variar dependendo de como é o atleta e para onde ele precisará de evoluir.
Para terminar quero deixar bem claro que está é apenas a minha forma de ver esta profissão, não querendo dizer que é a que está correta e não dizendo também que até não possa ser complementada com mais algumas especificidades da nossa atuação.
Rui Maldini,
Professor Assistente Convidado UTAD;
Doutorando em Ciências de Desporto UTAD;
Pós graduado em Fisiologia do Exercício Clínico, CESPU;
Formador Strength and Conditioning Specialist BWIZER®;
Personal Trainer City Gym® Guimarães;
Preparador Físico Pevidém Sport Clube.