Em entrevista à PTX, o Drº António José Arsénio Duarte, explica porque a terapia ocupacional é uma área orientada pela ciência e baseada em evidência e explica a importância que tem na reabilitação. Neste âmbito, O Drº António fala-nos, de forma muito interessante, sobre a complexidade funcional da mão e da sua especialidade – a “Terapia da Mão/Reeducação de Membro Superior”.
Doutor em Psicologia pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais- UALG;
Mestre na área de Educação e Formação de Adultos, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais- UALG;
Pós graduado em Terapia da Mão pela Associação Portuguesa de Terapia da Mão;
Licenciado em Terapia Ocupacional pela Escola Superior de Saúde do Alcoitão;
Coordenador de Terapia Ocupacional do CHUAlgarve- Unidades de Faro e Portimão;
Professor Adjunto Convidado do Instituto Politécnico de Beja e da Universidade Rey Juan Carlos de Madrid.
1 – Olá Drº António. Como coordenador do departamento de terapia ocupacional do Centro Hospitalar do Algarve, ajude a esclarecer os nossos leitores sobre a vossa área e forma de intervenção.
R.: Em 2017, a profissão de terapeuta ocupacional completou 100 anos de idade nos EUA. Em face desta efeméride, a American Occupational Therapy Association adotou a seguinte visão centenária:
«Em torno de 2017, prevemos que a terapia ocupacional seja uma profissão poderosa, amplamente reconhecida, orientada pela ciência e baseada em evidência, com uma força de trabalho globalmente diversificada e conectada que satisfaça as necessidades ocupacionais da sociedade (AOTA,2017)»
A relação entre a ciência ocupacional e a terapia ocupacional é simbiótica, que cada uma contribui para a sobrevivência da outra (Clark, 2006), e que a ciência ocupacional é o veiculo por meio do qual a profissão é cada vez mais direcionada pela ciência e baseada em evidência.
Grande atenção foi dirigida para esta relação entre a ciência ocupacional e terapia ocupacional, na qual se expressa que a ciência ocupacional se originou da terapia ocupacional.
O interesse no estudo da ocupação em relação à prática da terapia ocupacional, incluindo seus aspetos observáveis e fenomenológicos, pode ser catalítica para melhorar as abordagens terapêuticas e para criar novas abordagens, permitindo deste modo e à medida que evidências científicas forem produzidas para demonstrar de que modo a atividade de promoção de saúde diminui o risco de desenvolvimento de incapacidade ou doenças crónicas, a terapia ocupacional ficará melhor posicionada para afirmar seu papel na prevenção.
Desta forma e no CHUAlgarve, a terapia ocupacional posiciona-se nas áreas de intervenção:
Reabilitação física de adultos;
Reabilitação pediátrica;
Reabilitação em Saúde Mental e Psiquiatria;
Reabilitação em cuidados paliativos e oncologia;
Reabilitação na unidade de convalescença.
2 – Tendo em conta que a sua especialização está relacionada com a reabilitação do membro superior: mão, punho, cotovelo e o ombro, quais são os quadros clínicos mais frequentes e que conselhos daria como forma de prevenção?
R.: A Terapia da Mão/Reeducação de Membro Superior é uma formação especializada de nível superior orientada para reeducação funcional do membro superior, com uma forte componente teórico-prática na área das Ciências da Saúde. O plano curricular selecionado, dirigido a Terapeutas Ocupacionais e Fisioterapeutas, tem como objetivo o desenvolvimento de competências específicas de gestão clínica de disfunções do membro superior, utilizando modelos de raciocínio clínico compatíveis com a Classificação
Internacional de Incapacidade e Saúde (CIF).
Com base num modelo biopsicossocial, pretende-se que os profissionais sejam capazes de utilizar ferramentas teórico-práticas avançadas e adequadas para um desempenho e prestação de cuidados diferenciados e de excelência ao indivíduo com défice funcional do membro superior alcançando os seguintes objetivos:
• Desenvolver a capacidade de avaliar com visão critica e refletir sobre a sua própria prática
em terapia da mão;
• Rever criticamente a teoria que sustenta a terapia da mão;
• Contribuir para o desenvolvimento e crescimento do conhecimento teórico e prático na abordagem da terapia da mão;
• Desenvolver competências direcionadas para a investigação e capacidades de pesquisa;
• Desenvolver competências específicas a nível pessoal e profissional;
• Promover melhorias na prática clínica e pesquisa em terapia da mão;
Em reeducação do membro superior, as condições mais frequentes na unidade hospitalar de Faro prendem-se com as músculo-esqueléticas pré e pós cirúrgicas, reumatológicas, queimaduras e neurológicas.
Pretendemos que o individuo no pós cirúrgico adquira o mais breve possível a sua capacidade funcional com retorno à sua atividade pessoal e profissional.
As diversas atuações estão baseadas na evidência e protocoladas, alicerçadas no que as federações europeias e internacionais preconizam para as diversas incapacidades.
É extremamente difícil tratar qualquer lesão do membro superior sem um conhecimento apurado da anatomia, quer nos tratamentos cirúrgicos, quer na arte de reabilitar funcionalmente esse órgão tão importante das relações humanas.
Todas as estruturas do membro superior funcionam no sentido de levar a mão do individuo ao alcance do objeto a ser atingido ou a qualquer parte do seu corpo. A complexidade funcional da mão é tão grande, que até hoje não se sabe ao certo o número de posições em que se pode posicionar dedos e punho.
Isso, associado com a grande variedade de patologias que afeta o membro superior, justifica considerar-se a cirurgia da mão e a reabilitação da mão especialidades médicas ou biomédicas.
3 – Analisando a importância do trabalho multidisciplinar no contexto da terapia ocupacional, considera benéfica a comunicação com profissionais do exercício físico para encaminhamento do paciente após alta médica? Se sim, que vantagens vê nesta “ponte”?
R.: A meta final de qualquer programa de reabilitação é a aquisição de movimentos funcionais livres de sintomas. A qualidade da assistência ao individuo envolve sempre um processo de solução de problemas onde o profissional toma decisões efetivas baseadas em sintomas, sinais e limitações identificadas na avaliação. Simplificando, é uma alça de feedback compatível com modelos de tomada de decisão clinicas e funcionais.
Deste modo, é cada vez mais importante a multidisciplinaridade de vários atores da reabilitação física, onde os níveis de comunicação devem ser estabelecidos, permitindo a efetiva e rápida reabilitação e enquadramento social e profissional do individuo.