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13 de Novembro, 2018

“O doente (fibromialgia) deve criar rotinas e hábitos saudáveis de relaxamento e exercício, evitando alimentos e acções estimulantes de forma a minimizar a necessidade de fármacos.”

Entrevista à PTX por parte da Dra. Joana Abelha Aleixo, 34 anos, especialista em Reumatologia no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho e Hospital Privado de Gaia – Grupo Trofa Saúde.

Habilitações em patologia reumática (artrose, doenças autoimunes, metabólicas e microcristalinas, fibromialgia, etc.) e competência em técnicas músculo-esqueléticas (infiltração, ecografia, capilaroscopia, etc.)

A fibromialgia é uma problemática que ainda gera muita confusão na maioria das pessoas, pode-nos descrever resumidamente o quadro clínico típico destes doentes?

A fibromialgia é uma doença crónica  que se caracteriza por dor muscular e articular difusa, recorrente e migratória. O paciente apresenta um limiar mais baixo para a dor, isto é, sente dor sem um estímulo específico. Sintomas como a rigidez, fadiga, perturbação do sono, problemas de memória e de concentração são frequentes. As queixas habitualmente agravam com as variações de temperatura,  o stress, a insónia e a associação com outras doenças como a depressão, ansiedade,  síndrome do cólon irritável é comum.

Pensa-se que o mecanismo adjacente é uma desregulação na forma como o cérebro processa a dor e/ou um síndrome de hipersensibilização central.

Existe alguma franja da população que seja mais afectada por esta condição? 

A fibromialgia afecta cerca de 5% da população adulta e é mais frequente nas mulheres, em países desenvolvidos e na classe média-baixa. Pode ocorrer em qualquer idade, incluindo em crianças. Stress prolongado, história prévia de eventos traumáticos (mortes violentas ou inesperadas, acidente, etc..) e perturbações do sono são possíveis fatores desencadeantes.

Encontra alguma justificação para o género feminino ser o mais afetado?

Estudos recentes evidenciaram que as mulheres terão mais tendência a esta patologia por apresentarem diferenças na regulação hormonal, incluindo as variações do ciclo menstrual, diferenças no número de recetores de opióides e na regulação da analgesia induzida pelo stress, bem como por terem maior prevalência de síndromes depressivos e maior exigência e sobrecarga em actividades diárias tanto a nível familiar como profissional e social.

Que tipo de terapêutica é utilizado atualmente na atenuação dos seus sintomas? Com os avanços da ciência e do próprio conhecimento sobre esta condição é possível prever tratamentos mais eficazes num futuro próximo?

O ponto mais importante é a educação.  Por um lado o médico deve legitimar e explicar a doença para que o doente se sinta compreendido. Por outro lado devemos responsabilizar o paciente na gestão do stress e na organização das actividades diárias de forma a controlar as agudizações.  Outro aspecto fundamental é a regulação do sono. O doente deve criar rotinas e hábitos saudáveis de relaxamento e exercício, evitando alimentos e acções estimulantes de forma a minimizar a necessidade de fármacos. O exercício físico regular é indispensável pois está comprovado que diminui o quadro álgico ao evitar o estado de descondicionamento físico e ao melhorar  a força muscular, flexibilidade e relaxamento. A  reaprendizagem psicológica também é muito importante, com ou sem ajuda profissional, procurando uma vida mais tranquila mas activa, promovendo técnicas de gestão de ansiedade e de resolução de conflitos e actividades de lazer, meditação, etc…

A tudo isto soma-se, sempre que necessário, medicação analgésica, antidepressiva e/ou ansiolítica, embora o doente deva ter sempre presente que não há nenhum fármaco que possa, sem as outras medidas, resolver a sua doença.

Este tipo de paciente pode e deve realizar exercício físico? Existe alguma contra-indicação ou recomendação que gostasse de fazer nesse sentido?

Como já dito a prática regular de exercício físico é essencial na resolução das queixas, na melhoria do sono e no controlo de peso melhorando globalmente a doença, a auto-estima e a qualidade de vida.

O exercício deve ser individualizado tendo em conta a capacidade e preferências do doente, deve ser leve,  sem carga ou grande impacto articular, de curta duração (30-45 minutos) e com aumento progressivo de intensidade  mas idealmente diário. O doente deve ser incentivado a manter a actividade mesmo que na fase inicial possa sentir um agravamento normal da intensidade da dor.

A   ginástica aeróbica, hidroginástica em piscina aquecida, caminhada, bicicleta estática,  yoga, Tai-Chi e pilates são alguns dos exercícios mais adequados e qualquer um deles deve incluir aquecimento, exercícios de fortalecimento muscular, exercício aeróbio e alongamentos no final.

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