Num recente artigo do nosso Blog, trouxemos o tema: “A idade funcional” em que ficámos a conhecer uma forma alternativa de classificar o idoso. Ao invés de se utilizar o critério da idade cronológica, é proposto uma classificação segundo as suas habilidades funcionais.
Foram apresentadas 4 das 8 categorias mais funcionais do modelo hierárquico proposto pelo Instituto do Envelhecimento Funcional (FAI), ou seja: “independente superior, semi-apto, totalmente apto e elite” que surpreendiam pela sua disponibilidade física e desempenho, chegando mesmo a superar as habilidades de indivíduos 20 anos mais novos.
Hoje abordamos as restantes 4 categorias mais sedentárias e frágeis, ou seja: “dependente, frágil, pré-frágil e independente inferior”. Ao termos conhecimento destas categorias percebemos também o quão frágil e dependente o ser humano pode ficar e, de certa forma, como poderemos mitigar esses estados.
O “Independente Inferior” é pouco ativo ou sedentário. Geralmente prefere hobbies e atividades menos exigentes fisicamente (como leitura). Obtém uma classificação abaixo da média na maioria das avaliações de aptidão funcional. Tem uma maior probabilidade de ir adquirindo um declínio funcional e inevitavelmente segue uma trajetória funcional descendente mais evidente do que os indivíduos mais aptos. A ocorrência de debilidades e condições crónicas é considerável neste grupo de indivíduos. As características dentro deste mesmo grupo de indivíduos podem variar bastante. Uns podem ter um desempenho minimamente satisfatório ao nível da força mas défices evidentes ao nível do equilíbrio e mobilidade enquanto outros indivíduos podem apresentar exactamente o contrário.
É importante continuar a estimular o corpo e testá-los regularmente com tarefas da vida quotidiana para perceber as dificuldades com que se podem deparar e, eventualmente definir objetivos úteis e realistas. Se não houver a iniciativa para executar essas mesmas trefas dificilmente se perceberá as dificuldades com que se deparam. Incentivá-los a podar uma árvore, trazer as compras do supermercado, acelerar o passo para apanhar um transporte, conseguir molhar-se no mar em segurança poderão ser excelentes testes e até exercícios em si mesmos.
Paralelamente, em primeira instância o treino de força em máquinas guiadas e posteriormente o treino de padrões de movimento mais livres e adaptados à condição e objetivos são óptimas formas de manter as capacidades.
O “Pré-frágil” está num estágio de transição entre a independência e a fragilidade, estando a viver um ou dois dos cinco critérios de fragilidade: “perda de peso não intencional, fraqueza muscular, exaustão ou baixa resistência, velocidade de marcha lenta e baixos níveis de atividade física.”
Estes indivíduos estão num processo de perda de capacidades funcionais e poderão rapidamente inserir-se no grupo dos dependentes ou dos frágeis se não forem adotadas estratégias adequadas nesse sentido. Apresentam dificuldades em atividades do quotidiano como cozinhar ou simples tarefas domésticas como lavar a roupa. É um estado que ameaça entrar numa espiral de inatividade: menos atividade conduz a capacidades físicas reduzidas e vice-versa…
O “Frágil” obedece a 3 dos 5 critérios referidos acima. A fragilidade “é uma condição ou síndrome que resulta de uma redução na capacidade de reserva, uma vez que vários sistemas fisiológicos estão próximos ou além do limiar da falha clínica sintomática.” Por isso, a pessoa frágil corre um risco maior de incapacidade e morte devido a pequenas agressões externas.
Os Idosos frágeis podem realizar a maioria ou todas as atividades básicas da vida diária como tomar banho, vestir-se, ir ao WC e alimentarem-se. No entanto, começam já a sentir constrangimentos em atividades do quotidiano fora de casa ou mais físicas. Começam a revelar dificuldades na locomoção e passa a ser necessário o uso de equipamentos auxiliares como bengalas e andarilhos..
Estes indivíduos estão muito vulneráveis às quedas e têm uma predisposição para a osteoporose. Muitos já requerem cuidados ao nível da fisiooterapia devido à sua condição.
O treino de força nos indivíduos frágeis e pré-frágeis é uma a prioridade, uma vez que a sarcopenia (perda de massa e força muscular relacionada à idade) é a característica central da fragilidade. Recomenda-se também ter em atenção os défices de equilíbrio, mobilidade e marcha.
Para além do treino com resistências recomenda-se atividade extra como caminhadas entre 30 a 60 mn de intensidade moderada diariamente.
O “dependente” constitui a condição menos desejada e de todas. Estes são incapazes de realizar atividades básicas de forma autónoma e dependem sempre de outras pessoas ou de parelhos como bengalas, andarilhos ou cadeira de rodas para realizar atividades diárias. O nível de dependência e incapacidade aumenta com o aumento da idade cronológica.
Terminamos este artigo pedindo que reflita sobre quantas pessoas conhece que estão neste processo de perda de capacidades físicas. Pode ajudá-las já hoje recomendando um profissional do exercício com competências específicas e motivação para esta fase determinante da vida.
Referências:
Campbell, A.J., & Buchner, D.M. 1997. For debate: Unstable disability and the fluctuations of frailty. Age and Ageing, 26, 315–18.
Spirduso, W.W. 1995. Physical Dimensions of Aging. Champaign, IL: Human Kinetics.