Doutorada em Fisioterapia Avançada em Madrid, doutorando-se com sobresaliente cum laude por unanimidade em 2013. Mestrado em Terapia Manual Osteopática também em Madrid e Licenciatura em Fisioterapia no Algarve tendo sido a melhor aluna da Licenciatura. Frequentou o Mestrado em Reabilitação Neurológica em Lisboa tendo realizado 27 ECTS. Desde então tem realizado várias formações de pós-graduação em Ecografia músculo-esquelética; Posturologia Clínica, Fisioterapia uroginecológica; Fisioterapia crânio-Cérvico-mandibular; Fisioterapia dermato-funcional; Síndrome de sensibilização central; Medicina ortomolecular, entre outras.
É fisioterapeuta desde 2006 e em 2008 iniciou carreira académica tendo sido professora na licenciatura a tempo integral durante 9 anos tendo também lecionado no mestrado em Osteopatia em Madrid, durante este tempo desempenhou funções de coordenadora da licenciatura e outros cargos nomeadamente avaliação e orientação de trabalhos de investigação e Coordenação dos Estágios Curriculares na Licenciatura em Fisioterapia Membro do Gabinete de Apoio à Inserção na Vida Activa;
Depois passou a lecionar a tempo parcial para se poder dedicar mais à prática clínica. Atualmente é professora na Escola Superior de Saúde de Santa Maria (Porto) onde foi coordenadora da licenciatura durante 2 anos e é diretora clínica da Clinica Raquel Gregório em Faro há 7 anos, onde trabalha nas áreas de fisioterapia músculo-esquelética, uroginecológica, crânio-cervico-mandibular e dermato-funcional.
1- Como surgiu o gosto pela fisioterapia e quando sentiu que era sua paixão e vocação?
A minha paixão sempre foi pela saúde, desde pequena. Sempre me causou desconforto o sofrimento dos outros e não me fazia sentido que houvessem doenças. Pela Fisioterapia foi só quando iniciei a licenciatura que tive a noção que gostava bastante. No entanto, a minha paixão e vocação sempre foi na área da saúde em geral, não especificamente na fisioterapia, ter seguido esta carreira foi um acaso, um feliz acaso e o que faço é integrar outras abordagens à pratica da fisioterapia no sentido de tornar mais completa a minha abordagem ao paciente.
2- Sabemos que é uma profissional em constante formação, sempre em busca das melhores práticas para os seus pacientes. Para além disso, ainda lecciona na faculdade. Não é fácil dar resposta a todas estas solicitações profissionais e continuar a prestar um serviço diferenciado. Como consegue? Que conselhos gostaria de dar para que tal seja possível nesta ou noutras áreas da saúde?
A vida não é fácil para ninguém, independentemente do caminho que se escolha. Todos nós temos os nossos desafios. Eu escolhi ser a melhor profissional de saúde que conseguisse ser e para isso dedico todo o meu empenho e entusiasmo. Como estou altamente motivada, porque adoro o que faço, não sinto que faça nada de extraordinário, é muito natural para mim trabalhar 12 horas por dia e estudar ao fim de semana, faço-o com enorme prazer e ainda me sinto sortuda por ter o privilégio de fazer o que faço. Por isso, o meu único conselho é que cada um siga aquilo que realmente gosta de fazer, acredito que todos nós temos um dom que devemos explorar, se seguirmos aquilo de que verdadeiramente gostamos tudo será fácil e divertido.
3- Fale-nos da sua forma de trabalhar. No que consiste a fisioterapia Neuro-Músculo-Esquelética avançada?
O nome Fisioterapia Avançada vem do Doutoramento que fiz em Madrid, já lá vão quase 7 anos e foi o nome e decidi colocar à minha abordagem para diferenciar da fisioterapia convencional porque adopto práticas que não fazem parte do plano curricular da licenciatura em fisioterapia. Mas no fundo a minha forma de trabalhar vai para além da fisioterapia como já tinha referido.
No âmbito da Fisioterapia neuro-músculo-esquelética ajudo as pessoas a viver sem dor e sem desconforto no que respeita a queixas do sistema músculo-esquelético e nervoso, como por exemplo as dores de costas, as dores nas articulações, as lesões desportivas, a neuropatia diabética, quer através de uma abordagem preventiva quer na diminuição dos sintomas e sempre que possível identificando e corrigindo as suas causas.
Cada paciente constitui um desafio e para cada desafio aplico uma abordagem integrativa, ou seja para além de ver o corpo como um todo e o indivíduo como um todo aplico o conhecimento que desenvolvi em todas as formações que fiz juntamente com a minha sensibilidade e tento resolvê-los da forma mais célere possível. A ideia é aliviar os sintomas ou erradica-los na totalidade sem perder de vista a sua causa ou causas e atuar sobre as mesmas. Portanto, faço uma avaliação biomecânica e também a nível de inflamação sistémica que se manifesta através de dores músculo-esqueléticas ou distúrbios do sistema nervoso mas que têm uma base inflamatória que se trata por outra via que não a fisioterapia mas que é complementar a esta.
4- Explique-nos que papel poderá ter o treino força durante e após os tratamentos de fisioterapia.
O treino de força é fundamental para a maioria dos pacientes que trato, quer sejam pacientes com lesões músculo-esqueléticas, uroginecológicas ou dermato-funcional. É muito importante haver um seguimento após ou durante os tratamentos de fisioterapia com profissionais devidamente qualificados que ajudem os pacientes a recuperar a força muscular, a estabilidade e flexibilidade para atingir a máxima funcionalidade e prevenir lesões. Fazer exercício físico de forma não orientada pode ser um problema e é motivo de muitas das minhas consultas.
5- No que toca à Fisioterapia Uroginecológica há inúmeras disfunções que podem ser tratadas com técnicas inovadoras e que muitas mulheres ainda desconhecem. Gostaria de nos elucidar o que pode ser feito nesta área e que muito pode melhorar a qualidade de vida da mulher?
É uma área que me apaixona muito e que ainda há muitas mulheres e homens que desconhecem que existe. Eu dedico-me essencialmente às mulheres mas também trato alguns homens. As situações mais frequentes são a dor na zona vaginal, anal e/ou pélvica, a incontinência urinária, os prolapsos (órgãos descaídos), a bexiga hiperativa, a disfunção sexual e a dor menstrual. Mais uma vez adopto sempre uma perspetiva integrativa a aplico técnicas que ajudam a resolver estes problemas em poucas sessões, normalmente até 10 sessões de tratamento uma vez por semana são suficientes para melhorar o quadro clinico. Aplico várias técnicas de tratamento desde neurogulação, biofeedback, técnicas miofasciais, dry needling, laser, entre outras. Consoante a avaliação inicial assim será feito o programa de tratamento que é individual e especifico para cada utente.
6- No que toca a este aspeto da saúde da mulher, o exercício físico, quando mal executado ou orientado também pode ser prejudicial. Pode falar-nos sobre algumas destas situações e deixar alguns conselhos aos profissionais do exercício (nomeadamente a nível do pré e pós-parto)?
O exercício físico é fundamental para uma saúde plena e é também fundamental para a reabilitação do diafragma pélvico, quer seja em situações de pós parto ou não. É importante realizar os exercícios corretamente, isto é, ativar os músculos que queremos ativar sem realizar compensações e não exceder os limites fisiológicos das estruturas.
Acontece que muitas mulheres não têm os seus músculos pélvicos em condições de serem exercitados por se encontrarem contraturados, não conseguem realizar força muscular porque a musculatura não se encontra bem e por mais que seja solicitada através dos exercícios a única coisa que se consegue é criar ainda mais bloqueio muscular.
É do senso comum que devemos trabalhar os músculos que estejam fracos mas, nem sempre é assim, se estiver contraturado ou com trigger points o músculo deverá ser tratado primeiro, o que por si só já irá trazer ganhos de força e controlo motor. Então, uma dica é que se as alunas não melhorarem dos seus sintomas com a prática dos exercícios é porque precisam de ser tratadas com a fisioterapia uroginecológica. Outra nota importante é que após o parto não se realizem os abdominais clássicos com flexão de tronco pois aumentam muito a pressão abdominal, o que favorece o surgimento dos prolapsos.
7- A fisioterapia da pele é outra das áreas que tem investido e que muitos desconhecem. Pode elucidar-nos sobre os benefícios da fisioterapia dermato-funcional?
A Fisioterapia dermato-funcional é outra paixão minha, sou uma mulher muito apaixonada… é uma área que me dedico há vários anos mas foi desde 2008, quando tive oportunidade de visitar várias clinicas e universidades no estado de Santa Catarina no Brasil que me despertou ainda mais interesse e desde então tenho-a desenvolvido na minha prática clínica e em alguns trabalhos de investigação ao nível da licenciatura.
Basicamente, é uma área que trata da pele, da função da pele mas também da estética da pele, o fisioterapeuta que trabalha em dermato-funcional trata cicatrizes, queimaduras, psoríase, fibro-edeme-gelóide (celulite), flacidez, edemas após cirurgia ou traumatismo ou doença, rugas e manchas, entre outras afeções.
Utilizamos técnicas manuais e de eletroterapia e associamos princípios ativos em bases cosméticas para potenciar os resultados. Recentemente desenvolvi uma linha de produtos de marca própria a Fisioglam que são 16 produtos dermocosméticos para que o paciente em regime de home care os aplique no sentido de favorecer e prolongar os resultados dos tratamentos que efetuamos na Clínica. À semelhança da fisioterapia uroginecológia é também uma área pouco conhecida mas muito interessante também e cujas afeções tiram qualidade de vida às pessoas que não se sentem bem ou com a auto-estima e a função que poderiam ter.
8- O que é a Fisioterapia Cranio-cervico-mandibular e do que trata?
Mais uma vez, e passo a redundância é outra das minhas paixões (risos). Bem vista a coisa poderia ser integrada dentro da fisioterapia neuro-músculo-esquelética porque o que trata é alterações nas articulações e no sistema muscular, facial e nervoso, mas pela sua especificidade enquadra-se noutro chavão que é a fisioterapia crânio-cervico-mandibular. Aqui trato, ou ajudo a tratar a dor nas articulações temporo-mandibulares ATM) que abrem e fecham a boca, a dor de cabeça, os ruídos articulares quando abrimos ou fechamos a boca, basicamente a dor orofacial. Esta zona do corpo, cabeça e cervical está integrada com o resto do corpo e por isso a avaliação global da postura é fundamental antes da avaliação do crânio com a cervical e das ATM em si.
Trabalho em estrita colaboração com médicos dentistas pois a oclusão dentária (a forma como os dentes assentam uns nos outros) é importante para a função e o desenvolvimento ou não de sintomatologia relacionada com a disfunção das ATMs. Mas para ter uma ideia, para tratar uma alteração nestas articulações é preciso avaliar o pé, o olho, verificar se as pernas estão ao mesmo nível e ainda poderá ser necessário fazer análises sanguíneas para despiste da síndrome de sensibilização central pois é uma das causas do bruxismo e do aperto dentário que tanto contribuem para o desenvolvimento dos sintomas nesta zona.
Enfim, é uma abordagem integrativa e não trabalho sozinha, tenho a sorte de poder colaborar com outros profissionais a nível hospitalar que me ajudam a evoluir e melhorar a cada dia como é o caso da colaboração com o Dr. Manuel Blanco e do Doutor Óscar Cáceres, ambos médicos em Sevilha.