O diafragma é um maravilhoso músculo: complexo, multifunções, sobrevalorizado por alguns profissionais, desvalorizado por outros. Este tecido musculofibroso separa as cavidades torácica e abdominopélvica e é um dos principais músculos envolvidos na respiração (nomeadamente, considerado o principal músculo inspiratório). Deverá ficar claro, porém, que o diafragma participa em muitas outras funções, tais como controlo postural, circulação vascular e linfática, funções gastroesofágicas, entre outras [1]. Muitos seriam os ângulos de abordagem possíveis; hoje, iremos seguir somente o caminho da sua assimetria anatómica fundamental. Como tal, voluntariamente, muito ficará por dizer acerca do diafragma.
Advertência: sobre as referências de suporte, por favor, consultem a nota de rodapé [2].
Na figura 1, podemos observar, de imediato, a assimetria dos pilares do diafragma, com o pilar direito tendencialmente a terminar em L3 e o pilar esquerdo em L2. Uma leitura atenta denotará, igualmente, que a cúpula do diafragma é mais superior no lado direito do corpo; após uma expiração forçada, a cúpula direita tenderá a manter-se uma costela acima da esquerda. Isto permite, essencialmente, uma melhor acomodação do fígado (mais uma assimetria do nosso tronco). Ou seja, na sua metade direita, o diafragma inicia-se mais superiormente e termina mais inferiormente, denotando uma assimetria anatómica fundamental inerente a este músculo. Deveremos acrescentar que o pilar direito tende a ser mais largo do que o pilar esquerdo e, normalmente, é divisível em três feixes (versus dois do esquerdo). Finalmente, o ligamento suspensor do duodeno (designado por músculo em alguns locais), a cor laranja, segue um trajeto oblíquo descendente da direta para a esquerda.
Numa visão inferior (figura 2), de imediato percebemos que o diafragma apresenta orifícios ou aberturas assimetricamente distribuídos. Iremos mencionar somente os de maior dimensão. À direita da coluna, encontra-se o foramen da veia cava, para passagem da veia cava inferior e de alguns ramos do nervo frénico direito. À esquerda e mais inferiormente, temos o hiato esofágico, que permite a passagem do esófago, troncos vagais anterior e posterior e nervos gástricos, entre outras estruturas. Mais posteroinferiormente ainda, ligeiramente à esquerda da coluna, existe o hiato aórtico, para passagem da aorta, ducto torácico, troncos linfáticos da parede torácica posteroinferior e (nem sempre) as veias ázigos e hemi-ázigos. Existem outros pormenores anatómicos de interesse, mas neste breve texto ficaremos por estas características mais salientes.
A figura 3, denotando uma visão mais superior, volta a exibir algumas assimetrias, embora o software não detalhe as assimetrias anatómicas dos folíolos ou folhetos do tendão central, que estão descritas nos manuais de anatomia. Por exemplo, o folíolo médio tende a estender-se mais para a esquerda do que para a direita do diafragma. De resto, existe muita variação interindividual na proporção de músculo e tendão no diafragma.
A figura 4 pretende somente realçar algumas das assimetrias previamente mencionadas e exibir visualmente outras assimetrias na proximidade “geográfica” (neste caso, na cavidade abdominopélvica). Além destas assimetrias estruturais, os nervos frénicos direito e esquerdo diferem nas suas relações intratorácicas, com o nervo frénico direito sendo usualmente mais curto e mais vertical que o esquerdo.
Esta breve ilustração do diafragma pretende somente alertar para o facto de que as assimetrias são inerentes ao corpo humano, estando particularmente bem presentes no diafragma, um músculo tão importante no dia a dia e cuja ação influencia tantas estruturas adjacentes. Significa também isto que aparentes simetrias externas não correspondem necessariamente a simetrias internas. Significa, finalmente, que eventuais transferências de força no e através do tronco dificilmente seguirão percursos simétricos.
José Afonso (Docente FADEUP e Formador Convidado MVF e REP – Exercise Institute)
Referências:
[1] Kocjan, J.; Adamek, M.; Gzik-Zroska, B.; Czyzewski, D.; Rydel, M. (2017): “Network of Breathing. Multifunctional Role of the Diaphragm: A Review”. Advances in Respiratory Medicine, 85(4), 224-232. DOI: 10.5603/ARM.2017.0037.
[2] As imagens utilizadas são retiradas do software Complete Anatomy 2020 (3D4Medical from Elsevier), do qual tenho licença de Educador. As descrições anatómicas serão baseadas no Gray’s Anatomy, 41st Edition (2016. Published by Elsevier. Editor-in-Chief: Susan Standring) e no Bergman’s Comprehensive Encyclopedia of Human Anatomic Variation (2016. Published by Wiley Blackwell. Editors-in-Chief: R. Shane Tubbs, Mohammadali M. Shoja and Marios Loukas).