O conhecimento científico tem uma evolução muito acelerada hoje em dia.
Temos acesso a uma quantidade enorme de informação, de qualidade variável, disponível hoje na literatura, obrigando o leitor a fazer uma seleção do que deve ler.
A informação proveniente da investigação científica consegue-se através de meios como a observação, a experimentação e a crítica, e decorre da necessidade do ser humano conhecer o sentido, o propósito e o modo de funcionamento de diferentes fenómenos.
Os cientistas usam os artigos científicos para divulgar os resultados dos seus trabalhos e as suas pretensões científicas.
Quando estamos empenhados num projeto, precisamos de ler artigos científicos sobre a área a estudar, de modo a conhecermos e compreendermos o que já foi estudado e quais as problemáticas que estão em aberto na comunidade científica. Ao ler um artigo científico o objetivo é perceber as contribuições para a ciência que os diferentes autores descrevem. A procura do conhecimento científico decorre da necessidade de nos atualizarmos e aprofundarmos conhecimentos.
É então importante diferenciarmos o conhecimento científico do senso comum, pois o primeiro exige uma base teórica e a verificação a partir da experiência ou testagem, e o senso comum baseia-se nas crenças populares ou na oralidade (“ouvi dizer” ou “disseram-me que”).
Entre várias características dos trabalhos científicos, uma das principais é a sistematização, isto é, o ato de descobrir de forma ordenada, agregando diferentes ideias que formarão posteriormente uma teoria.
Destacamos também o princípio da verificabilidade, comprovando-se ou não uma ideia ou teoria.
É possível escolher entre diferentes tipos de publicação: artigos de atualização, divulgação, análise crítica pontual (editorial), estudo de caso, pesquisa clínica ou experimental. Qualquer que seja a opção, é preciso considerar, ainda, características importantes como qualidade da revista ou jornal em que foi publicado o artigo, idoneidade do editor e do corpo editorial, exigências do periódico para aceitar a publicação de artigos, e credenciais, tanto do autor como da instituição.
Os leitores das revistas científicas precisam de ser capazes de julgar os argumentos apresentados em cada artigo, contra ou a favor de ideias, posturas, interpretações ou intervenções.
A leitura de um artigo científico deve ser eminentemente crítica, pois as afirmações não valem por si mesmas, é preciso uma base de comparação, ou seja, é necessário referir outros resultados que sirvam de referência.
Nos artigos que relatam experiências, é particularmente importante ler, com detalhe, a descrição da metodologia utilizada, pois podem faltar detalhes importantes, como por exemplo, a falta de clareza quanto às observações múltiplas nos mesmos indivíduos, ou se as observações foram realizadas em indivíduos diferentes.
O artigo científico deve, pois, descrever todas as técnicas aplicadas, incluindo as estatísticas, e o leitor deve julgá-las com cuidado.
A leitura e crítica de artigos científicos possibilita-nos a aprendizagem de:
- Linguagem da comunicação científica (estrutura, vocabulário e convenções);
- O modo como os cientistas usam os seus resultados para formar argumentos e justificar as suas evidências;
- Como o conhecimento científico é construído (desenhar uma investigação para testar uma hipótese; testes necessários; apresentar resultados, obter conclusões, levantar novas questões).
Como podemos então decidir se devemos ou não ler um determinado artigo? Estes são alguns critérios que podemos considerar:
1) relevante para o nosso trabalho;
2) publicado numa revista com fator de impacto e com revisores;
3) qualidade e resultados confiáveis e precisos;
4) escrita clara e acessível.
É importante referir igualmente que, para percebermos corretamente um artigo, o leitor deve estar preparado para o ler várias vezes, pois o que parecia incompreensível na primeira leitura, torna-se facilmente compreensível nas leituras seguintes. Muitas vezes é necessário realizar algumas pesquisas paralelas, de forma a compreender completamente a informação disponibilizada no artigo, como por exemplo, explorar referências e citações ou pesquisar conceitos em livros.
A maioria das revistas científicas usa uma estrutura convencional: Resumo, Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão e Conclusões.
Na Introdução pretende-se criar nos leitores o interesse pela matéria e fornecer informação sintetizada relativamente ao conteúdo do artigo, isto é, explicar o contexto da investigação. A introdução consegue esse objetivo conduzindo os leitores desde a informação geral até informação mais específica atingindo um ponto central (uma questão que os autores propõem e respondem). Deste modo, os autores descrevem o trabalho científico já realizado nessa área pela comunidade científica e enquadram o seu trabalho nesse contexto, justificando a sua importância.
Na Metodologia, apresenta-se ao leitor os procedimentos que foram considerados para a recolha de dados necessários para responder à questão colocada na introdução. Os métodos podem ser, por vezes, de leitura um pouco mais difícil, pois apresentam-se numa linguagem muito técnica e um nível de detalhe muito elevado para que os procedimentos possam ser replicados por outros cientistas. No entanto, para melhor entender o desenho das experiências e avaliar a validade dos resultados é obrigatório ler esta secção.
Já nos Resultados e respetiva Discussão, é descrito o que foi descoberto, e apresentam-se os resultados também de uma forma visual, em forma de gráficos e tabelas. Na discussão são normalmente comparados os resultados obtidos com outros trabalhos feitos na área. A discussão funciona também para dar uma resposta clara à questão colocada na introdução e explicar os resultados que fundamentam a conclusão.
Podemos deixar como estratégia para a leitura de um artigo a necessidade de adotarmos uma postura crítica, colocando algumas questões como:
- Se os autores estão a tentar resolver um problema, será que estão efetivamente a resolvê-lo?
- Existem soluções simples que os autores não consideraram?
- Quais são as limitações das soluções que os autores propuseram?
- As hipóteses dos autores são sensatas? A lógica do artigo é clara e confiável, tendo em conta as hipóteses que propuseram?
- Os dados que os autores recolheram são suficientes para apoiarem os seus argumentos? Os dados foram recolhidos com o método mais correto?
- Os dados foram interpretados da maneira mais correta? Deviam ter sido
recolhidos mais dados?
Por outro lado, para além desta atitude crítica e reflexiva, devemos considerar também alguma criatividade na leitura, como:
- Quais são as boas ideias do artigo?
- Essas ideias podem ter outras aplicações ou estender-se a outras áreas que os autores não consideraram?
- Poderiam eles ter generalizado mais?
- Há algumas melhorias que poderiam fazer algumas diferenças práticas?
- Se fossemos realizar uma investigação com base neste artigo, qual seria o próximo passo?
- Depois de uma primeira leitura, resumir o artigo em uma ou duas frases. Quase todos os artigos científicos tentam responder a uma questão específica, pelo que se conseguirmos descrever o artigo de uma forma sucinta, conseguiremos reconhecer a questão e a resposta que os autores propõem.
- Comparar o artigo com outros trabalhos na mesma área, no sentido de perceber se os resultados são efetivamente novos.
Um artigo científico pode dar diferentes contribuições, pois podem fornecer novas ideias, outros implementam ideias já publicadas, mas aplicadas em novas condições, demonstrando como se relacionam, outros acrescentam resultados que corroboram modelos ou teorias vigentes, e outros publicam novos métodos ou técnicas de recolha de dados.
Uma vez entendido o artigo, devemos perguntar-nos se podemos aplicar a sua abordagem no nosso trabalho.
Terminamos a referir que todos os contributos científicos sérios e rigorosos são um importante contributo para a evolução do conhecimento científico.