Num dos artigos anteriores debruçamo-nos sobre a observação e as suas implicações com o treino, hoje aprofundamos um pouco mais o tema e refletimos sobre o que torna um observador competente.
As ciências naturais têm as suas raízes metodológicas no empirismo, a capacidade de processar informação, adquirir conhecimento e interpretar o seu significado e utilidade é fundamental para aprender e maturar as capacidades mentais.
Fazer apreciações, tomar decisões e formular hipóteses emergem da observação empírica.
Existem uma série de variáveis e características que proporcionam uma observação competente:
– Logo à partida a integridade do nosso aparato sensorial e sistema nervoso;
– Depois a nossa capacidade de honestidade para aquilo que observamos como a nossa habilidade para manter a atenção, foco e disciplina;
– Outro aspeto importante é manter um registo das observações, seja ele escrito ou no formato de vídeo ou gravação de voz. Nós enquanto profissionais do exercício físico acabamos ainda por privilegiar o registo escrito ou ainda em vídeo;
– Temos de estar orientados para os detalhes, mas sempre com uma noção do geral;
– Tentar perceber se ocorre mudança ou não ao longo do tempo. Consciência dos vieses cognitivos e forma de os ultrapassar;
– Conseguirmos ponderar o que é importante e não, é de extrema utilidade para uma observação competente, assim como a nossa experiência, conhecimento e compreensão;
– Definirmos bem os objetivos da nossa observação;
– Existe também uma redução do total de informação, por parte do sistema nervoso central, através do campo sensorial e que para superar essa redução inconsciente uma escolha deliberada para considerar a diferentes coisas dentro do campo sensorial deve ser feita.
Após estas variáveis gostaríamos de remeter ao tipo de observação estruturada e não estruturada. Existe, a nosso ver, uma espécie de preconceito para com a observação não estruturada – ou seja aquela que é realizada de uma forma holística e sem o uso de um guia, talvez pelas conclusões precipitadas que daí retiramos. Contudo, quando conjugada com uma observação estruturada, mais reducionista poderá ser de imenso valor. Porque nos remete para a capacidade de perceber as mudanças ou não que ocorrem ao longo do tempo através de todos os registos que vamos criando.
Agora operacionalizando todos estes aspetos e variáveis na nossa rotina diária de treino retemos que a capacidade de recolher, processar e analisar toda a informação que um determinado sujeito nos fornece é de extrema importância para podermos justificar as nossas decisões, sejam elas através dos cenários mecânicos que idealizamos – suportados pelo conhecimento da física e do corpo, número de repetições, séries, descanso, etc.
O texto e reflexão pode parecer longo e sem propósito, mas a integração desta informação, a nosso ver, é o passo para justificarmos a entrega do nosso serviço, de forma competente, e podermos cada vez mais justificar a utilidade de uma prescrição de exercício físico individualizado e personalizado, no verdadeiro sentido da palavra.
Adaptado de “Muscle System Specialist Course – Greg Mack”.