Ontem voltámos a partilhar um artigo, que data de 14 de abril de 2019, onde na altura falamos do treino online vs. treino presencial.
Há um ano atrás, o Fitness encontrava-se em expansão e iam surgindo novos serviços para dar resposta à procura. Constatávamos, nessa altura, que os treinos online poderiam permitir ao treinador alcançar uma área geográfica muito maior a partir da sua casa, chegando a mais pessoas, possivelmente com menos custos uma vez que recorria essencialmente às tecnologias, não necessitando de um espaço físico nem de dotar o mesmo de equipamentos para uma experiência ou processo de treino. Era um serviço que, essencialmente, estava associado a uma espécie de consultoria com um custo inferior a um regime presencial. Ou seja, o aluno tinha acesso a um “plano” de treino que poderia executar no local mais conveniente para si ou que mais lhe agradava. No entanto, uma percentagem considerável desses “planos” destinavam-se ao contexto de ginásio, com objetivos mais conotados com a estética e “prescrito”, em muitos casos, por profissionais que não estavam legalmente habilitados para o fazer (nem na área do exercício nem de outras como a nutrição ou suplementação) mas, reconhecidamente, com algum conhecimento ao nível empírico, devido à experiência de treino adquirida como praticantes ou como atletas em modalidades como por exemplo, a de culturismo. O aluno, muitas vezes, sentindo necessidade de um maior acompanhamento, procurava esse serviço externo ao seu ginásio. Este via uma necessidade satisfeita momentaneamente, a um custo estava disposto a pagar. Esta situação acabou por facilitar o acompanhamento por parte de alguém com mais experiência e, poderá até, de alguma forma, ter contribuído para uma maior adesão/ retenção ao nível da prática de actividade física.
Contudo, nesse mesmo artigo, para além destas vantagens do treino online, tendo em conta o nosso escopo de trabalho (o treino presencial), também colocámos diversas questões sobre a sua operacionalização e enumerámos uma série aspetos com o intuito de se reflectir se poderia existir um verdadeiro acompanhamento num regime não presencial.
Entretanto, com esta pandemia, as circunstâncias e os contextos mudaram drasticamente. Os personal trainers, tal como a maioria da população, sentiram-se no dever de cumprir as recomendações e cumprir uma fase de isolamento em prol do bem comum. Os mesmos, não podendo fazer o que gostam no ambiente que mais se identificam, viram-se obrigados a trabalhar a partir de casa para acompanhar os seus alunos. Sendo a prática de exercício físico fundamental para a sua saúde ao nível físico, emocional e psicológico, e estando a maioria da população confinada, treinar em casa acabou por ser uma prática inevitável e natural.
Os dias de hoje obrigaram-nos portanto a recorrer à ferramenta da internet para chegarmos à maior parte dos nossos clientes, o que não deixa de ser irónico!
Para além dos exercícios e aulas com um caracter aleatório que inundaram as redes sociais (facto que alertámos noutras publicações), também foi possível constatar a realidade oposta por parte de certos profissionais mais conscienciosos. Constatando-se que implementaram treinos supervisionados remotamente o que é substancialmente diferente do que estávamos a assistir até à pandemia e que, na nossa opinião, carecia desta componente de maior controlo, segurança e supervisão.
Mas se todos os exercícios, mesmo em regime presencial, sempre apresentam um rácio risco/benefício, sendo que nenhum está isento de riscos, nesta nova versão também se trata de avaliar esses mesmos riscos sob a forma de alguém ficar desprovido de realizar o seu exercício físico.
Dadas todas as limitações ao nível do treino nomeadamente a inexistência de equipamentos ajustados e que podem conferir uma maior intensidade e segurança, passou a ser útil contar com profissionais com conhecimento e capacidade de adequar os estímulos do corpo de quem se quer manter ativo e saudável neste período.
Para além desta adaptação, face às questões e desafios recorrentes que nos têm colocado, nomeadamente de clientes, a PT teve ainda a iniciativa de elaborar uma série de vídeos, que não poderão ser confundidos como uma receita mas que face ao contexto atual nos permitem também diminuir os riscos da prescrição do exercício numa plataforma online.
Por isso, gostaríamos de reforçar a ideia de que se trata, acima de tudo, de material que serve para refletirmos e que ao mesmo tempo pode, e deve, ser utilizado com precaução.
Infelizmente a responsabilidade na execução passou totalmente para o cliente/paciente. Cabe-nos a nós encontrar a melhor forma de chegar a todos sem perder a ideia da individualização.
Mais do que bons treinos, neste momento desejamos a todos treinos seguros, realistas e conscientes. Que as noticias sejam cada mais favoráveis e que em breve todos possamos treinar como gostamos, com quem gostamos e confiamos.
Texto de Gonçalo André e Tiago Gago