Patrícia Sancho, Doutorada em Ciências da Educação e Organização de Instituições Educativas; Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica (Enfermeira Parteira); Responsável pelo Serviço de Maternidade do Hospital Particular do Algarve – Unidade de Gambelas; Fundadora e Responsável pelo “Ervilhitas” e pelo curso “Preparar para Nascer”. Ao logo dos últimos 12 anos tem dedicado toda a sua carreira à saúde das famílias, mamãs e bebés. A sua experiência profissional abrange todas as áreas de saúde da mulher, desde a infertilidade, preconcepção, parto e pós-parto, terminando no climatério. Durante o seu percurso profissional integrou equipas de planeamento familiar como voluntária, realizando uma intervenção junto das comunidades escolar e carenciadas. Contemplou a equipa do primeiro hospital amigo dos bebés em Portugal e adquiriu diversas formações, traduzindo-se numa vasta experiência em matéria de amamentação. No seu curriculum são notáveis algumas formações, tais como, formadora de CAM pela Unicef/OMS; conselheira em aleitamento materno; instrutora de Massagem Infantil pelas AIMI; parto activo; parto em Movimento, parto na água, e formação em reabilitação perineal, entre outras.
Defende uma alimentação consciente onde evita o consumo de proteína animal, dando primazia ao consumo vegetal. Adepta da prática de Mindfulness; actividade física regular e uma boa higiene do sono. Adopta na sua rotina diária práticas mais sustentáveis e ecológicas.
A nível de atividade física, Admira o amanhecer e por isso começa o dia com um treino ou uma corrida matinal, desfrutando do nascer do sol no paraíso onde vivemos. O desporto acompanha-a desde criança, aqui confessa que o mérito se deve em grande parte à sua mãe, que desde cedo lhe incutiu a prática diária de exercício físico e uma alimentação cuidada. Sendo o ténis o seu desporto de eleição, pratica-o desde criança até aos dias de hoje, embora de forma ocasional.
1-A enfermagem desempenha um papel fundamental na promoção, prevenção e recuperação da saúde. Pode explicar as principais competências e áreas de intervenção dos enfermeiros?
“Os enfermeiros atuam num vasto leque de áreas com a missão de cuidar o outro, respeitando a sua individualidade e o ser como um todo. A sua prática consiste em sensibilizar e informar para o estado de saúde, prevenindo o estado de desequilíbrio que leva à doença, actuando, nas famílias e na comunidade em geral.
Aquando da instalação da doença e na convalescença também a actuação dos enfermeiros tem um papel preponderante, sendo o profissional de saúde que mais tempo e proximidade assume junto do paciente e sua família.
Destaco ainda a presença dos enfermeiros em áreas como a investigação; a gestão, a supervisão e a formação, no desenvolvimento de boas práticas em saúde.”
2- Como profissional da especialidade de obstetrícia, presta assistência à mulher em importantes fases da sua vida, com foco na gravidez e pós-parto. Quais as principais alterações sofridas e necessidades ao nível da saúde da mulher nessas fases?
“A mulher, ao longo do seu ciclo vital, apresenta um conjunto de alterações fisiológicas, psicológicas e físicas que influenciam a sua forma de pensar, agir e sentir.
Na idade fértil é fundamental que a mulher conheça o seu corpo, bem como, o seu ciclo menstrual. Torna-se importante que exista um reconhecimento das alterações que ocorrem no seu corpo, e o impacto da variação hormonal no seu comportamento, na disposição e gestão de emoções. É recomendável uma vigilância ginecológica adequada com os exames de rastreio sempre em dia.
Na gravidez as alterações físicas são as mais óbvias pois facilmente se observam, estas podem provocar o aparecimento de alguns desconfortos considerados fisiológicos que podem ser sentidos pela maioria das mulheres. A variação hormonal vivida pode influenciar nas flutuações de humor; no aumento de sensibilidade e até no mau estar físico, como é o exemplo de vómitos numa fase inicial de gravidez.
Muitas mulheres grávidas sentem ainda o impacto do “baby brain” mais conhecido por esquecimento ou dificuldade em retenção de informação.
Aliado a todas estas questões acresce um novo papel e certamente o mais desafiante, o de ser mãe, conduzindo a alterações psicológicas, emocionais e sociais que devem ser geridas com ponderação.
No pós-parto, a mulher experiencia o chamado “turbilhão emocional” onde sente um misto de sentimentos, emoções e ainda pode ser “visitada” pelo baby blues.
Nesse percurso exigente e transformador a mulher tem de gerir muitas vezes a privação de sono, o cansaço instalado a reorganização das rotinas, a interpretação das necessidades do seu bebé, além de toda a recuperação física inerente. Estes são ingredientes mais do que suficientes para provocar algum desequilibro e fragilidade na saúde da mulher contrabalançando com um amor incondicional pelo seu bebé.
As necessidades variam de acordo com cada mulher e com o seu sentir, pelo que nem todas partilham a sintomatologia descrita, da mesma forma que cada uma tem a sua experiência da Maternidade.
É fundamental manter um ambiente calmo, seguro, amoroso, onde impere a harmonia e o apoio por parte do companheiro (a)/ suporte familiar/ social.
Torna-se determinante para a saúde e bem-estar da mulher que a mesma aceite as alterações que ocorrem, integrando-as como fazendo parte do processo natural, balize as espectativas, tornando-as mais aproximadas do real e aprenda a gerir da melhor forma as emoções, contudo, torna-se imprescindível que o meio circundante seja compreensivo, e de escuta activa.
O autoconhecimento é decisivo para ter uma voz activa ao longo de toda a gravidez, parto e pós-parto, tomando decisões conscientes e informadas a fim de obter um maior bem-estar e equilíbrio para si e para o seu bebé.
Uma vigilância regular por parte de profissionais experientes é muito importante para um desenvolvimento positivo da gravidez.”
3- Quais os principais cuidados que uma mãe deve ter com o seu corpo para que recupere o mais rápido possível após o parto?
“É sabido que nem todos os corpos necessitam dos mesmos cuidados. Nem sofrem todos de igual modo, no entanto há pontos comuns, transversais à saúde da mulher em geral e que por isso devem ser cuidadosamente analisados e pensados.
1- Estar motivada para a mudança e recuperação;
2- Propor-se a objectivos realistas, traçar um plano e tentar cumprir ao máximo;
3- Primar por uma alimentação consciente e equilibrada.
4- Garantir uma hidratação eficaz
5- Mimar-se, destinar tempo para si
6- Ser disciplinada
7- Praticar exercício físico recomendado e adequando ao período pós parto, com uma equipa treinada e experiente,
8- Manter uma vigilância de saúde adequada.
9- Procurar descansar/ dormir,
10- Tentar preservar um ambiente tranquilo e com muita ocitocina.
11- O Amamentar é um fator protetor
12- Silenciar o ruído e confiar em si, porque a mulher sabe tudo aquilo que tem de fazer
4- Ao nível da criança recém-nascida, o que pode ser planeado para garantir o máximo conforto e pleno desenvolvimento?
“Com a chegada de um filho adivinha-se um caminho exigente que requer aprendizagem e preparação. Desta forma a realização de um “Curso Preparar Para Nascer” https://ervilhitas.com/preparar-para-nascer/?fbclid=IwAR0rX0ERd2TXQysBB2BSf35AduC8OU8VM2GthocsDJZ3UV1OIyR5Yxt1UdE , torna-se essencial, na medida em que potencia nos pais a adopção de um conjunto de comportamentos mais seguros e escolhas mais conscientes e eficazes.
Normalmente a preparação é realizada somente na gravidez, no entanto, recomendo que seja feito, se possível, um planeamento da gravidez acompanhado de uma preparação no período pré-concecional.
Um ponto importante e cada vez mais debatido e evidenciado na literatura científica, é a tomada de consciência para os primeiros mil dias de vida do bebé. Estes iniciam-se na gravidez e decorrem até aos dois anos de vida e levam a repercussões na vida adulta.
Sugiro sempre alguma literatura aos pais que acompanho, nomeadamente sobre desenvolvimento da criança, mindfulness e parentalidade consciente. Evidencio um dos meus autores favoritos, Carlos Gonzalez, o qual recomendo vivamente.
Os pais devem manter-se actualizados para acompanharem da melhor forma o desenvolvimento dos filhos. Como tal, torna-se importante explorarem em que patamar estes se encontram e procurar interagir de uma forma adequada à idade mental da criança.
É urgente disponibilizar tempo para simplesmente estar com o seu bebé, observa-lo e conhece-lo. As práticas de massagem, momentos de brincadeira, pele a pele, a amamentação, entre outras favorecem esse conhecimento e vinculação.”
5- Considera que a actividade física orientada por um profissional pode melhorar a vida e a saúde da mulher nas fases que falámos? Quais os principais cuidados a ter?
“Considero que na gravidez e no pós-parto a prática de exercício físico deverá ser contemplada pelos inúmeros ganhos em saúde e bem-estar e mantida ao longo da vida de forma a potenciar a saúde da mulher.
Enumero alguns benefícios na gravidez e pós-parto como o controlo de peso, redução do risco nas patologias especificas da gravidez, humor melhorado, estabilizador de parâmetros vitais, libertação de hormonas de bem-estar e felicidade, permite o alivio de alguns desconfortos e favorece a autoestima.
Manter a atividade na gravidez é uma excelente opção, pois favorece a mobilidade, fundamental no momento do parto.
No pós-parto o exercício ajudará a restabelecer todas as alterações ocorridas na fase anterior. Sendo que as aulas em grupo podem trazer benefícios às mulheres pela partilha e troca de experiências. Também o facto de poderem fazer-se acompanhar pelos seus bebés constitui uma mais valia pois potencia a amamentação em horário livre a vinculação e o aumento da segurança sentida por ambos.
Recomenda-se antes de dar inicio à prática de exercício físico uma validação no sentido de perceber se há alguma contra-indicação ou exercício(s) que deve ser evitado(s), junto do (s) profissional (s) que segue a gravidez/ pós-parto.
Para um resultado mais imediato o treino personalizado é uma sugestão.
Para que a mulher consiga no meio de toda a nova rotina com o seu bebé, encontrar tempo para se cuidar, é fundamental o apoio incondicional do companheiro(a) dando reforço positivo e incentivo.
O profissional desportivo deverá ter habilitações e experiência alargada no âmbito da saúde materna, de forma a utilizar exercícios seguros e que melhor se adaptem a cada fase.
A mulher dever ter uma alimentação rica e equilibrada com bom aporte de água.
As mulheres devem ser respeitadas, mimadas, priorizadas e protegidas por todos nós, são elas que carregam a matriz que faz com que a espécie humana seja preservada, pensem nisso!”