Cardio
20 de Novembro, 2018

“Não somos todos iguais e os cancros também não.”

Miguel Rodrigues, 40 anos, médico urologista, dedicado à patologia oncológica urológica (cancro da próstata, da bexiga e do rim), à incontinência urinária e à litiase urinária (“pedra nos rins”).
Foi praticante de bodyboard, Aikido e Jiujitsu brasileiro, mas atualmente pratica desporto de manutenção (corrida, treino funcional e treino de força).

1- Pode falar-nos sobre as principais áreas de intervenção da sua especialidade?
A Urologia é uma especialidade que se dedica ao tratamento das patologias do aparelho urinário (rins, ureteres, bexiga e uretra) e do aparelho genital masculino (pénis e testículos). As doenças que assolam estes aparelhos causam grande sofrimento e redução da qualidade de vida. Poder ajudar estes doentes é um previlégio enorme, pois geralmente consegue-se uma melhoria enorme da vida destes doentes.

2- Quais as doenças/ distúrbios mais comuns dos seus pacientes?
Apesar de ser uma especialidade muito conotada com os pacientes do sexo masculino, um terço dos doentes que recorrem às consulta de urologia são mulheres. Curiosamente, as patologias que trazem uns e outros à consulta são bastante diferentes. Os Homens vêm sobretudo por doenças da próstata, como o crescimento benigno da próstata (HBP), que pode condicionar obstrução da uretra e sintomas miccionais com grande impacto na qualidade de vida, ou o diagnóstico precoce e tratamento do carcinoma da próstata, e pelas disfunções sexuais (disfunção eréctil e ejaculação prematura).
As mulheres vêm essecialmente por infecções urinárias e incontinência urinária.
Depois existem patologias comuns a ambos os sexos, nomeadamente os tumores dos rins e bexiga (mais frequente no Algarve que no resto do país) e a litíase urinária, cujas famosas cólicas renais são responsáveis por algumas das dores mais intensas que o ser humano pode sentir.

3-O que pode ser feito tanto para diagnosticar mais cedo como para tratar ou evitar essas doenças?
O diagnóstico precoce destas doenças é fundamental para permitir soluções mais simples, minimamente invasivas e com menos sequelas. A chave passa por fazer exames de rotina e procurar assistência médica quando surgem os primeiros sintomas.
No Carcinoma da Próstata, que numa fase incial não dá qualquer sintoma, o diagnóstico precoce passa pela realização de vigilância anual do PSA (analise ao sangue), ecografia e exame físico. Esta detecção permite a realização de tratamentos minimamente invasivos e praticamente sem sequelas, como a Braquiterapia da Próstata.
Valorizar sinais de alerta, como a perda de sangue na urina, a dificuldade de urinar ou urinar com muita frequência, também permite a identificação de tumores da bexiga, do rim ou HBP.
O tratamento da incontinência urinária logo no início das queixas pode permitir tratamentos não cirúrgicos eficazes, como a reabilitação do pavimento pélvico ou os tratamentos medicamentosos.

4- Considera que a atividade física orientada seria benéfica nesses casos? Quais os principais cuidados a ter para que a atividade física seja uma experiência benéfica para esses doentes?
A atividade fisica em geral traz benefícos a muitos níveis. Além de melhorar a resistência física e o bem estar emocional, estimula o sistema imunitário, melhorando a resistência a células tumorais e a infecções, e eleva os níveis de testosterona, melhorando a performance sexual e reduzindo a disfunção eréctil.
Por outro lado, combatendo a obesidade, reduz-se a pressão e deformação do pavimento pélvico, diminuindo a incidência de incontinência urinária, e quando a cirurgia é o tratamento necessário, melhoram-se as condições cirúrgicas e consequentemente os resultados.
O exercício físico orientado consegue potenciar ao máximo os benefícios da atividade física ajustada às necessidades e capacidades de cada pessoa, obtendo-se rapidamente os melhores resultados. Até em doentes com doença avançada, se conseguem resultados extraordinários, minimizando o risco de lesões ou efeitos indesejáveis.

5-Sabemos que se tem dedicado à investigação na área da oncologia urológica. Gostaria de nos falar sobre a sua experiência e sobre evolução da medicina nesses casos?
As teorias são muitas e não importa aqui tentar perceber porquê, mas a realidade é que cada vez mais vamos sofrer de cancro. Nos últimos 15 anos a minha experiência profissional no SNS esteve sempre muito ligada ao cancro e incluiu uma passagem pelo IPO de Lisboa, onde não fiquei a trabalhar por fazer questão de trabalhar no Algarve.
A luta contra o cancro é uma batalha fisica e emocionalmente muito dura para o doente e para a família. É fundamental, não descurar cada detalhe, para ajudar o doente a ultrapassar este processo. Estes detalhes vão desde ajudar a focar a atenção no tratamento e não na doença, até adaptar cada tratamento às especificidades da doença e às necessidades do doente. Antigamente era esperado que o doente “obedecesse” às indicações do medico. Atualmente a decisão é partilhada com o doente. Não somos todos iguais e os cancros também não.
Todos os anos surgem avanços tecnológicos e novos estudos de medicamentos. É fundamental estar muito focado e actualizado, até porque o doente oncológico somos todos nós.

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