Padel, o desporto do momento! Sabemos, pela sociedade, o boom que o Padel sofreu desde a pandemia. Não é claro que tenha sido a pandemia a beneficiar o próprio desporto, mas a realidade é que este desporto teve um crescimento elevado em Portugal nos últimos 2 a 3 anos. Posto isto, é normal que algumas pessoas que seriam mais sedentárias ou até que praticassem outros desportos passassem a incluir o Padel como uma atividade desportiva na sua rotina semanal, em alguns casos com alguma regularidade. Por isso, levantam-se as seguintes questões: será a preparação física importante no padel? Como será o perfil atlético de um atleta/jogador de padel? Quais as necessidades físicas de um atleta/jogador de padel?
Vamos começar por abordar a importância da aptidão cardiovascular no padel. Para isto necessitamos de definir alguns conceitos, como o VO2máx e os limiares ventilatórios.
O VO2max é uma métrica utilizada para classificar a aptidão cardiovascular. Define-se pela capacidade que temos de captar, transportar e utilizar oxigénio de forma eficiente, por isso, um VO2max mais elevado vai ajudar a recuperar de forma mais rápida entre os pontos, entre os sets, e em menos tempo. Neste sentido, pressupõe-se que um VO2máx mais elevado poderá permitir estar melhor preparado para a competição. Mas, qual será um bom valor de VO2max?
Na imagem em cima temos uma primeira tabela que quantifica e classifica os diferentes valores de VO2máx. Chamo a atenção que estes valores são relativos, ou seja, expressos em ml/kg/min.
Na segunda tabela da imagem em cima temos os valores médios de atletas de padel de alto rendimento Podemos perceber que não são valores muito altos, quando comparados com atletas de ciclismo, por exemplo. No entanto, é necessário ter em conta que as exigências do desporto também são bastante distintas. É importante salientar que a melhoria do VO2máx está mais limitada pela componente genética. O que é que isto significa? Há autores que referem que o VO2máx já se encontra “pré-estabelecido”, ou seja, não conseguimos simplesmente aumentar o VO2máx, mas podemos melhorar a nossa aptidão e expressá-lo. Assim, teoricamente podemos afirmar que o nosso VO2máx é o mesmo, quer a nossa condição física seja reduzida, quer a nossa condição física esteja na sua melhor expressão, a diferença é mesmo essa, a nossa capacidade aumentada de expressar esse VO2máx.
No entanto, será esta métrica a ideal para classificarmos a aptidão cardiovascular? E, acima de tudo, de a podermos relacionar com a performance desportiva?
Na minha humilde opinião, Não! O VO2máx não é a variável mais importante, mas antes os limiares ventilatórios (LV) ou o limiar lático (LL). Apesar de nomenclaturas diferentes, acabam por expressar o mesmo (não exatamente o mesmo, mas de forma muito aproximada). A grande diferença é a forma como são medidos, ou seja, os LV são medidos através da nossa “respiração”, isto é, por ventilação, enquanto que os LL são medidos através do lactato.
Outra diferença entre LV e LL é que temos descritos 2 LV, e apenas 1 LL. Estes limiares estão bastante relacionados à intensidade do exercício, e correspondem ao ponto a partir do qual começamos a acumular fadiga e não conseguimos manter o nível de intensidade.
O LV1 corresponde ao ponto onde a excreção de Dióxido de Carbono (CO2) se aproxima do consumo de oxigénio (O2). O LV2 corresponde ao ponto de compensação respiratória, isto é, onde a excreção de CO2 começa a ser superior ao consumo de O2, o que significa que a ventilação aumenta substancialmente, sendo que a partir deste ponto, a componente anaeróbia do exercício também aumenta bastante. Entre o LV1 e o LV2 ainda nos mantemos em exercício predominantemente aeróbio.
Assim, se conseguirmos que estes limiares, principalmente o LV2, ocorra a uma intensidade mais elevada, ou que sejamos capazes de chegar ao LV2 a uma velocidade maior (caso fosse na corrida), iriamos demorar mais tempo até entrarmos num estado de fadiga que atrapalhasse a performance desportiva. Neste caso, níveis elevados de fadiga podem, por exemplo, afetar a nossa tomada de decisão ou a nossa precisão da batida na bola.
Está ainda fundamentado que a probabilidade de ganhar o ponto aumenta quando o “rally” passa os 4s, e se chega próximo dos 11s. Nesta fase, normalmente o ponto é perdido por erros. Em baixo podemos perceber a que intensidade estão os LV dos atletas de padel.
Por isso, se pretendes melhorar a tua performance, é importante que melhores estes limiares, através do treino! A inclusão de métodos de HIIT podem ser uma estratégia, pois é uma ótima forma economizar o tempo de treino, realçando que não é a única estratégia para melhorar os LV, pois o treino continuo é também uma estratégia plausível.
Rafael Peixoto | Strength & Conditioning Specialist