Cardio
13 de Dezembro, 2018

“O AVC é uma doença devastadora e com consequências gravíssimas”

Dr André Florêncio, 34 anos, médico especialista em Medicina Interna, com especial foco na área cardiovascular e metabolismo, em entrevista à PTX fala sobre a abrangência da medicina interna, sobre o trabalho desenvolvido na unidade de AVC e os riscos associados a esta devastadora doença. Refere a importância de se trabalhar em equipa e da colaboração dos vários colegas na reabilitação dos doentes cardíacos, ajuda a identificar os primeiros sintomas deste tipo de acidentes e explica como se podem evitá-los. O ex-praticante de ténis, bodyboard, skimboard e que atualmente é adepto de musculação e cardiofitness, conclui esta entrevista explicando a importância de um estilo de vida saudável e do exercício físico nestes casos.

1-Pode esclarecer-nos sobre as principais áreas de intervenção da especialidade de Medicina Interna?
“A Medicina Interna é uma especialidade médica, que se ocupa do doente adulto como um todo, não trata doenças, trata doentes, procurando integrar toda a complexidade dos sistemas cardiovascular, respiratório, metabólico e renal num todo de forma a compreender os sintomas e chegar através de um raciocínio médico ao diagnóstico para podermos tratar o doente da melhor maneira possível.”

2-Intervém numa área intimamente relacionada com a atividade física e com um estilo de vida saudável. Pode dar a conhecer aos nossos leitores sobre as suas funções na Unidade de AVC?
“Dado o meu especial interesse na área do risco cardiovascular, surgiu a oportunidade de ser parte do staff da Unidade de AVC do Hospital de Faro, para quem não sabe a única Unidade do Algarve. O AVC é uma doença devastadora, com consequências gravíssimas tanto em sequelas motoras como grande causa de mortalidade, para não falar nos transtornos familiares e sociais que acarreta. Para quem não sabe é a primeira causa de mortalidade e incapacidade em Portugal.
No caso do AVC isquémico, o mais frequente, é uma emergência médica potencialmente tratável. No entanto apenas os casos que chegam ao hospital a tempo (4,5h limite para medidas médicas) podem ser tratados, o meu trabalho é identificar de uma forma rápida estes doentes e nos casos selecionados tratar. Alguns destes casos necessitam de tratamento cirúrgico agudo. Implica assim uma grande articulação imediata e atempada de vários profissionais e meios de transporte
Após a fase aguda, tentamos depois perceber as causas que conduziram ao AVC, para podermos agir e prevenir novos eventos.
Por outro lado destaco a colaboração dos médicos fisiatras, fisioterapeutas, enfermeiros e terapeutas da fala na reabilitação dos doentes com AVC.”

3-Quais os principais problemas cardiovasculares com que os seus pacientes se deparam?
“Os doentes que sofrem esta patologia são de todas as faixas etárias, sendo até relativamente frequente termos doentes com menos de 50 anos.
As causas que podem levar a que uma pessoa tenha um AVC são variadas, algumas bastante raras. No entanto as doenças ditas ocidentais, associadas ao estilo de vida estão claramente entre as mais comuns, falo da hipertensão arterial, hipercolesterolémia, diabetes, por outro lado o tabagismo e o stress contribuem muito para esta patologia.
Existem outras causas de AVC menos frequentes como por exemplo doenças cardíacas congénitas, dissecções carotídeas e/ ou outras doenças genéticas raras.”

4-O que pode ser feito para diagnosticar mais cedo esses problemas?
“Deve haver um seguimento médico regular, aqui o médico de família tem um papel preponderante, pois é ele o primeiro contacto médico com o doente e com a sua família. É aqui que começa o tratamento principal do AVC a prevenção. Penso que neste ponto gradualmente temos vindo a melhorar dado o aumento da cobertura da população por médicos de família.
Quando o AVC se instala, ao identificar os primeiros sintomas como alteração da fala, alteração da visão súbita, alteração da força ou da sensibilidade dos membros de um dos lados do corpo ou assimetria da face deverão recorrer de imediato ao Hospital, nunca esperar, pois esta atitude pode salvar a vida.”

5-Há cada vez mais evidências científicas de que a atividade física regular e orientada, bem como um estilo de vida saudável, reduzem o risco de doenças cardiovasculares. Pode informar-nos sobre as conclusões dos estudos mais recentes nesse sentido?
“Estas evidências científicas não deixam dúvidas. Como disse muitas das doenças se associam a um estilo de vida incorreto com erros que são feitos de forma consistente ao longo de vários anos. Assim, implementar um estilo de vida saudável, com alimentação e atividade física adequada vem prevenir não só o aparecimento destas doenças como o seu controlo, pois estamos a falar de doenças crónicas.
Entendo que são alterações difíceis de implementar, o estilo de vida moderno é muito exigente, com muitas variáveis que diariamente nos desafiam pelo que é fácil perdermo-nos pelo caminho. Por isso esta implementação de hábitos dever sempre que necessário ser orientada para ser bem sucedida e não cairmos em novos erros. Dado o excesso de informação ao nosso dispor na internet, muitas vezes errada, facilmente hábitos que pensamos serem saudáveis podem conduzir a problemas maiores.”

6-A reabilitação cardíaca está associada essencialmente à medicina e à fisioterapia. No entanto, é uma área que cada vez mais profissionais do exercício físico investem e aspiram intervir. Como estas diferentes áreas poderão coabitar de forma a beneficiar o doente? Que conselhos gostaria de dar a esses profissionais do exercício para que trabalhem da forma mais segura e eficaz possível?
“Na minha opinião é uma questão de tempo até que seja prescrita atividade física. Penso que lentamente as coisas vão evoluir nesse sentido, no entanto devem ser procurados consensos entre os intervenientes para que trabalhem em harmonia e não em disputa. Os profissionais do exercício físico devem procurar o seu espaço, investindo na sua formação e demonstrando o valor que criam no seu trabalho diário, criando ferramentas para objetivar esse valor criado.”

Despeço-me com a máxima – “Não existem doenças, existem doentes”.

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