“Fala-se muito sobre os idosos, mas reflete-se pouco e faz-se pouco” – Manuel Villaverde Cabral
A população idosa tem vindo a aumentar em todo o mundo e Portugal não é exceção.
O desenvolvimento tecnológico, clínico e social ajudou a esta tendência demográfica, levando a uma crescente preocupação sobre as consequências que este fenómeno engloba.
A realidade é que estamos a viver mais anos, mas o aumento da esperança média de vida nem sempre ilustra a qualidade da mesma, e é por vezes associada a um aumento do tempo na doença, dependência, mortalidade e consequentemente à falta de qualidade de vida.
Quando procuramos estratégias para um envelhecimento bem-sucedido, o primeiro passo será tentarmos encontrar os principais “culpados” por este acelerar de perda de funções.
O sistema neuromuscular tem tido uma grande atenção por parte da comunidade científica, pois este parece influenciar de forma significativa a qualidade de vida de pessoas idosas. A sua função começa a diminuir de forma mais progressiva a partir dos 70 anos, podendo surgir “doenças de envelhecimento”, como a sarcopenia (perda de massa muscular e qualidade do músculo) e dinapenia (perda de força). Estes indicadores são de grande relevância para qualquer profissional que atue com esta população pelo facto de estarem associados a fragilidades, mortalidade precoce, perda de independência, quedas, hospitalizações e institucionalizações.
Mas, o que há uns anos nos parecia quase inevitável, envelhecer e esperar pelo pior, atualmente a evidência já nos consegue mostrar um melhor caminho: a prática de exercício físico como estratégia primária.
O idoso, ao contrário do que se possa pensar, tem uma grande capacidade de reposta ao exercício físico mesmo em idades mais avançadas, conseguido apresentar melhorias em ganhos de força, qualidade do músculo e níveis de massa muscular, tendo como consequência, adaptações na sua função física, autonomia e independência.
A evidência mostra-nos que em centenários independentes, para além de uma boa função neuromuscular, a função pulmonar, o consumo máximo de oxigénio, questões ortopédicas, e função cognitiva estão de certa forma preservados em níveis favoráveis de saúde. Qual é o comportamento comum encontrado e que pode estar correlacionado a estes níveis de funcionalidade? A prática regular de atividade física.
Outro fator interessante encontrado em idosos de mais idade, parece ser capacidade de “limitar” o aparecimento de doenças relacionadas com a idade. Está documentado que a prática de exercício físico regular reduz o risco de aparecimento de várias doenças neurológicas, metabólicas, cardiovasculares, pulmonares, músculo-esqueléticas e até alguns cancros.
A capacidade de manter uma boa função física e a adoção de comportamentos preventivos de doenças, como ter níveis de atividade física favoráveis ao longo da vida, parecem ser fatores relevantes a ter em conta para quem quer um envelhecimento bem-sucedido.
O profissional de exercício físico tem um papel fundamental neste processo, mas sem nunca esquecer que o envelhecimento traz consigo alterações em fatores fisiológicos, psicológicos e sociais específicos de cada indivíduo, influenciado por fatores genéticos, do meio ambiente e do estilo de vida, que interagem entre si e conduzem a forma como se envelhece.
Texto de Rui Bessa
- Licenciatura em Ciências do Desporto IPB
- Mestrado em Ciências do Desporto – Especialização em avaliação e prescrição na atividade física UTAD
- Formação complementar em treino personalizado e pilates clínico APPI
- Profissional de exercício físico como promotor de saúde em populações de terceira idade e doenças crónicas
- Criador e representante da página “Terceira Oportunidade”